Andar pelo bairro de Bel Air, um dos mais críticos em Porto Príncipe, é desafiador. Nas ruas, os haitianos montam suas bancas e vendem de tudo um pouco. O movimento é intenso, e o trânsito, caótico. Gente andando de um lado a outro, pessoas que param perto do carro e oferecem água, "dlo-dlo" em creolle. Bel Air é considerada zona vermelha pela Minustah, Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti e está dentro da área do Brabatt 2. O batalhão brasileiro é responsável pela segurança nessa área. Na região, vivem 93 mil pessoas.
A Missão da ONU chegou ao Haiti em 2004 a pedido do governo haitiano. Na época, o país vivia o caos social, político e administrativo. Nas ruas de Bel Air, tropas brasileiras até trocaram tiros com gangues haitianas. As ruas do bairro eram demarcadas pelos grupos rivais, com montanhas de lixo empilhadas nos pontos, fazendo o limite do território de cada grupo. Os militares brasileiros tiveram muito trabalho para pacificar a região e hoje até tem uma base com 146 militares no alto do morro no coração de Bel Air. Instalaram-se instalaram no Forte Nacional, um local histórico que no século XVII foi usado para defender o Haiti das invasões europeias.
Hoje, a ameçada está espalhadas pelas ruas: lixo e esgoto.
Em toda Porto Príncipe, por onde a gente anda vê ainda os escombros do terremoto de 12 de janeiro. Construções parcialmente destruídas jazem como esqueletos quebrados nas ruas e avenidas. E a vida recomeçou assim mesmo, e ainda é muito difícil. Não há emprego. Algumas iniciativas existem, mas as carências são tantas que a impressão é que pouco foi feito. Mas o esforço de reconstrução é gigantesco.
Na sede da Minustah, há gente do mundo todo trabalhando em diferentes áreas. Uma união de forças de organismos internacionais, governos e do atual governo do Haiti. Os esforços hojes estão concentrados em duas frentes: conter o avanço da cólera e garantir as eleições dia 28 de novembro, quando serão escolhidos o novo presidente e os parlamentares, senadores e deputados.
Os haitianos não conhecem a cólera. Os panfletos distribuídos pela Organização Mundial de Saúde e governo haitiano trazem desenhos feitos por artistas locais e textos em creolle, língua nativa no Haiti. São distribuídos em escolas, nas ruas e locais de acesso a população. Os militares brasileiros do Brabatt 2 fizeram o Cólera Day. Foram a uma escola e deram palestras para alunos do primário e do ensino secundário. Falaram sobre medidas de prevenção, lavar as mãos, ferver a água, não comer alimentos crus e até ensinaram a fazer soro caseiro. As crianças se divertiram e ao mesmo tempo aprenderam um pouco. Esse dia de prevenção é um rotina. Em todas as intalações onde estão os contingentes brasileiros existe o cuidado para evitar a cólera. Alcool gel, lavagem e asperção de cloro nos veículos, tratamento de água, cuidados com alimentos e muita atenção com a higiene.
Só em Porto Prícinpe, são 850 campos com mais de 1,5 milhão de desabrigados. Nesses campos, ONGs internacionais, a Organização Mundial da Saúde, militares e voluntários estão orientando e cuidando da população para que a cólera não se espalhe e contamine muita gente. É inevitável a disseminação da doença, mas o trabalho é para diagnosticar precocemente os casos e já começar a hidratação.
O Oficial de Informações Públicas do componente Militar da Missão da ONU, o major brasileiro Adilson Akira, diz que os números mais atualizados são de 9 de novembro. Há 11.125 pessoas internadas em tratamento, e 724 já morreram de cólera em todo o Haiti. Em Porto Príncipe, a situação está sob controle. São 278 pessoas internadas e 6 mortes.
Sobre as eleições, está mantida a informação de que será no dia 28 de novembro. O contingente militar está inclusive se preparando para ajudar na segurança dos centros de votação, no transporte das urnas e na apuração. São 1.494 centros de votação no Haiti, com um total de 4 milhões e meio de eleitores. Atualmente, 19 candidatos disputam a presidencia do Haiti. A escolha democrática de um novo governante tem sido apontada com um passo importante para a estabilização política do país. E nesse ano marcado por tragédias, o povo haitiano que não é obrigado a votar, vive também a expectativa de saber quem vai assumir o governo e o que será feito com as doações internacionais prometidas ao país. Esperam também medidas concretas de reestruturação, para que possam aos poucos retomar a vida e os sonhos.
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