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Fome

Alimentos enviados à África são roubados e vendidos

Refugiados somalis preparam comida em Hodan, distrito da capital Mogadíscio. Desvio de alimentos atrapalha ajuda internacional | Feisal Omar/Reuters
Refugiados somalis preparam comida em Hodan, distrito da capital Mogadíscio. Desvio de alimentos atrapalha ajuda internacional (Foto: Feisal Omar/Reuters)

Mogadíscio - Milhares de sacos de alimentos enviados para alimentar as vítimas da fome na Somália foram roubados e vendidos em mer­­ca­­dos na mesma região onde crian­­ças esqueléticas em campos de re­­fugiados imundos não têm o su­­ficiente para comer.

O Programa Mundial de Ali­­mentação da Organização das Na­­ções Unidas (ONU) admitiu, pela primeira vez, que há dois meses investiga o roubo de alimentos na Somália. O Programa Mundial de Alimentos enfatizou que a "escala e a intensidade" da crise alimentar não permitem a suspensão da ajuda e que interromper o envio de alimentos levaria a "muitas mortes desnecessárias".

Além disso, a distribuição da ajuda alimentar não é segura, pois tem sido repassada a famílias amontoadas em campos im­­provisados que pipocam por Mo­­gadíscio. Muitas famílias do enor­­me campo de Badbado, controlado pelo governo, disseram que foram forçadas a devolver os alimentos depois que jornalistas ti­­raram fotos dos sacos. "Você não tem escolha. Tem simplesmente de entregar, sem discussão, para conseguir ficar aqui", diz o refugiado Ali Said Nur.

O ONU estima que mais de 3,2 milhões de somalis, quase a me­­tade da população do país, precisa de ajuda alimentar depois que um intenso e persistente período de seca complicou ainda mais a situação na Somália, que enfrenta uma longa guerra civil. Mais de 450 mil somalis vivem em regiões controladas por militantes ligados à Al-Qaeda, o que torna mais difícil ainda a entrega de alimentos.

Autoridades internacionais já esperavam que parte da comida enviada para a Somália se perdesse, mas a escala dos desvios le­­­­vanta questões sobre a capacidade de se chegar aos que passam fome. Também deixa dúvidas sobre a prontidão das agências humanitárias e do governo somali de combater a corrupção e se os alimentos desviados estão abastecendo a guerra civil, que já dura 20 anos.

"Enquanto ajuda pessoas fa­­mintas, você também ajuda a alimentar o poder de grupos que fazem da situação um negócio", observa Joakim Gundel, presidente da Katuni Consult, empresa sediada em Nairóbi, no Quê­­nia, que costuma avaliar a ajuda internacional na Somália.

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