Refugiados somalis preparam comida em Hodan, distrito da capital Mogadíscio. Desvio de alimentos atrapalha ajuda internacional| Foto: Feisal Omar/Reuters

Crise

Alta dos preços dos alimentos ameaça os mais pobres, alerta o Banco Mundial

A alta dos preços dos alimentos para níveis recordes e a volatilidade dos mercados de matérias-primas estão colocando em risco a vida dos mais pobres no mundo, alertou ontem o Banco Mundial (Bird). Os preços globais dos alimentos eram em julho 33% mais caros que um ano atrás, enquanto os preços do petróleo tinham subido 45%, o que elevou o preço dos fertilizantes, segundo dados da instituição em seu relatório trimestral.

"Os preços dos alimentos continuamente altos e as quedas dos estoques de comida indicam que ainda estamos em uma zona de perigo, com as pessoas mais vulneráveis com mais dificuldades para encarar" a situação, disse o presidente do Bird, Robert Zoellick, em comunicado. "A vigilância é vital dadas as incertezas e a volatilidade atual. Não há amortecimento", completou.

Segundo o relatório do Bird, os preços que agora estão perto dos recordes de 2008 contribuíram para a emergência alimentar no Chifre da África.

"Agora com os altos preços dos alimentos, a pobreza e instabilidade se combinam para produzir mais um trágico sofrimento para o Chifre da África", disse Zoellick, acrescentando que o Banco Mundial estava acelerando a ajuda de curto prazo através de redes seguras para os pobres e vulneráveis em lugares como Quênia, Somália e Etiópia. (AFP)

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Mogadíscio - Milhares de sacos de alimentos enviados para alimentar as vítimas da fome na Somália foram roubados e vendidos em mer­­ca­­dos na mesma região onde crian­­ças esqueléticas em campos de re­­fugiados imundos não têm o su­­ficiente para comer.

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O Programa Mundial de Ali­­mentação da Organização das Na­­ções Unidas (ONU) admitiu, pela primeira vez, que há dois meses investiga o roubo de alimentos na Somália. O Programa Mundial de Alimentos enfatizou que a "escala e a intensidade" da crise alimentar não permitem a suspensão da ajuda e que interromper o envio de alimentos levaria a "muitas mortes desnecessárias".

Além disso, a distribuição da ajuda alimentar não é segura, pois tem sido repassada a famílias amontoadas em campos im­­provisados que pipocam por Mo­­gadíscio. Muitas famílias do enor­­me campo de Badbado, controlado pelo governo, disseram que foram forçadas a devolver os alimentos depois que jornalistas ti­­raram fotos dos sacos. "Você não tem escolha. Tem simplesmente de entregar, sem discussão, para conseguir ficar aqui", diz o refugiado Ali Said Nur.

O ONU estima que mais de 3,2 milhões de somalis, quase a me­­tade da população do país, precisa de ajuda alimentar depois que um intenso e persistente período de seca complicou ainda mais a situação na Somália, que enfrenta uma longa guerra civil. Mais de 450 mil somalis vivem em regiões controladas por militantes ligados à Al-Qaeda, o que torna mais difícil ainda a entrega de alimentos.

Autoridades internacionais já esperavam que parte da comida enviada para a Somália se perdesse, mas a escala dos desvios le­­­­vanta questões sobre a capacidade de se chegar aos que passam fome. Também deixa dúvidas sobre a prontidão das agências humanitárias e do governo somali de combater a corrupção e se os alimentos desviados estão abastecendo a guerra civil, que já dura 20 anos.

"Enquanto ajuda pessoas fa­­mintas, você também ajuda a alimentar o poder de grupos que fazem da situação um negócio", observa Joakim Gundel, presidente da Katuni Consult, empresa sediada em Nairóbi, no Quê­­nia, que costuma avaliar a ajuda internacional na Somália.

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