Alvo de dois grandes ataques terroristas em menos de um ano, a “Cidade Luz” ganhou contornos sombrios, sendo tomada por um sentimento de medo e vulnerabilidade. O forte reforço da segurança após o atentado islâmico ao jornal satírico “Charlie Hebdo”, em 7 de janeiro, não foi suficiente. Sob frequentes ameaças de atentados, a França voltou a virar notícia nesta sexta-feira (13) depois de mais um massacre que chocou o mundo, o maior desde 1945. Uma das maiores potências da Europa tornava-se – mais uma vez – refém do terror.
Quando as primeiras informações de tiros, mortos e reféns começaram a surgir na noite de hoje, foi inevitável não recordar o ataque ao “Charlie Hebdo”. O temor era que a tragédia se repetisse ou tivesse dimensões ainda maiores. E foi o que aconteceu, expondo a fragilidade não só da França mas de todos os outros países, diante de um inimigo anunciado e imprevisível.
Uma das nações a integrar a coalizão liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico (EI), a França deu sequência neste ano a uma megaoperação contra o terror, anunciando ter frustrado vários ataques em seu território e detido um número indeterminado de suspeitos.
O alvo não é só Paris. Há apenas dois dias, as autoridades francesas prenderam um homem que admitiu planejar ataques contra militares em Toulon, no Sudeste do país. Em agosto, a polícia frustrou um atentado num trem que fazia a rota Amsterdã-Paris.
Países que combatem o EI no Iraque e na Síria já haviam manifestado o temor que jihadistas estrangeiros retornassem a seus locais de origem para realizar ataques. A preocupação foi manifestada não apenas pela França, mas também por Reino Unido e EUA.
O atentado intensifica as tensões e aumenta o sentimento de insegurança, com os franceses relembrando outros atos de extremistas no país. O mais recente deles antes do caso “Charlie Hebdo” aconteceu há quase três anos, em março de 2012, quando Mohamed Merah, de 23 anos, que se dizia militante da rede terrorista al-Qaeda e da ideologia fundamentalista salafista, atirou e matou sete pessoas perto de Toulouse. O atirador executou três crianças franco-israelenses e um rabino na porta da escola judaica Ozar Hatorah e filmou o massacre com uma câmera atada a seu pescoço. Entre as vítimas, estava uma menina de 7 anos que ele agarrou pelos cabelos.
Ao longo de sua História recente, a França acumula uma extensa lista de ataques, reivindicados por diferentes grupos que vão desde a al-Qaeda até a Organização da Luta Armada Árabe.
Antes do massacre no “Charlie”, Paris não sofria diretamente com a ação de extremistas desde 3 de dezembro de 1996, quando um atentado na estação do metrô de Port-Royal, em plena hora do rush, deixou quatro mortos e 91 feridos. Cerca de um ano antes, terroristas islâmicos argelinos explodiram uma bomba dentro da estação Saint-Michel, deixando oito mortos.
Em 1995, uma série de ações terroristas deixou mais de 200 feridos. Em 17 de setembro de 1986, também em Paris, um atentado a bomba numa loja matou sete pessoas e deixou 55 feridas. Em cerca de um ano, a cidade foi alvo de 15 atentados, todos de autoria da rede terrorista pró-Irã de Fouad Ali Saleh. No total, 13 pessoas foram mortas e 303 feridas.
Em 1983, no dia 15 de julho, a explosão de uma bomba causou oito mortes no aeroporto de Orly, deixando também 54 feridos. O local já havia sido alvo, em maio de 1978, de militantes palestinos, que atiraram num grupo que embarcava para Tel-Aviv. Oito pessoas morreram e três ficaram feridas.
Ainda em 1983, em dezembro, dois outros atentados deixaram os franceses em alerta, ambos reivindicados pela Organização da Luta Armada Árabe: uma bomba colocada na estação de Saint-Charles, em Marselha, deixou dois mortos e 34 feridos. Minutos antes, outra explosão causou a morte de três pessoas no trem Marselha-Paris. E, em 29 de março de 1982, Illich Ramirez Sanchez, conhecido como Carlos, o Chacal, atacou um trem que fazia o trajeto Toulouse-Paris depois que dois membros de seu grupo terrorista foram presos. Cinco pessoas morreram na explosão e 77 ficaram feridas.
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