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Anistia relata que governo sírio recorre à tortura em “larga escala” nas prisões

Reconstituição da prisão militar de Saydnaya | /Anistia Internacional
Reconstituição da prisão militar de Saydnaya (Foto: /Anistia Internacional)

Espancamento, choque elétrico, queimaduras em água fervente, estupros: o governo sírio recorreu à tortura “em larga escala” em suas prisões, onde mais de 17,7 mil detentos morreram em cinco anos de guerra - informa a Anistia Internacional nesta quinta-feira (18), denunciando “uma crueldade em sua forma mais vil”.

“Eles nos tratavam como animais. Eu vi o sangue correr, como um rio”, conta o advogado Samer, referindo-se aos guardas do período em que esteve preso.

Seu testemunho é um dos 65 relatos de ex-detentos que amargaram nas prisões dos serviços de Informação do governo e na prisão militar de Saydnaya, perto de Damasco. Esses relatos foram reunidos pela Anistia.

Nesses locais, os atos de tortura são “generalizados e sistemáticos contra todos os civis suspeitos de serem contra o governo”, acrescenta a ONG em seu relatório, denunciando “crimes contra a Humanidade”.

À Anistia, eles descreveram sinistros rituais, como a “festa de boas-vindas”. Nela, os novos detentos são “espancados” com barras de ferro, de plástico, ou com cabos elétricos.

Omar S. disse que um agente penitenciário obrigou um homem a se despir e ordenou que violentasse um terceiro. Seria morto se não obedecesse.

O militante antigoverno Said contou que foi violentado, na frente de seu pai, com um bastão elétrico, sendo pendurado de um único braço e com os olhos vendados.

A maioria das vítimas contou ter visto pessoas morrerem na prisão e ficarem com os cadáveres em suas celas.

Outro ex-preso contou que um dia a ventilação parou de funcionar, e sete pessoas morreram sufocadas nos centros de detenção lotados.

Crueldade

“O caráter sistemático e deliberado da tortura e de outros tratamentos ruins na prisão de Saydnaya testemunha uma crueldade em sua forma mais vil e uma falta flagrante de humanidade”, denuncia o diretor da Anistia para o Oriente Médio e o Norte da África, Philip Luther.

Em Saydnaya, onde é muito frio no inverno, os presos eram mantidos por semanas em celas subterrâneas, sem qualquer agasalho.

Para não morrer de fome, muitos disseram ter comido caroços de azeitona e casca de laranja.

Denunciando “processos perversos”, a Anistia Internacional reclama ainda da “comida insuficiente, dos cuidados médicos limitados e da ausência de instalações sanitárias adaptadas” nas prisões, “um tratamento desumano e cruel”.

Vários detentos foram soltos após diferentes anistias decretadas pelo governo nos últimos anos, ou graças à troca de presos, ou depois de serem processados, e se encontram em locais não especificados.

Ao menos, 17.723 presos morreram desde o início da guerra, em março de 2011, um média superior a 300 mortes por mês, segundo a ONG com sede em Londres, que enfatiza que as estatísticas são muito altas e cita milhares de desaparecimentos forçados.

A organização alerta que os números reais são bem mais elevados.

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