O Conselho Nacional de Defesa do Egito, liderado pelo presidente Mohamed Mursi, condenou no sábado (26), a violência nas ruas e fez um apelo por diálogo nacional para resolver as diferenças políticas, disse o ministro da Informação, Salah Abdel Maqsoud, após reunião do conselho.
O conselho, que inclui o ministro da Defesa, que é um general encarregado do Exército, também pode considerar declarar estado de emergência ou toque de recolher em áreas de violência se necessário, disse Maqsoud.
Pelo menos 30 pessoas foram mortas em uma onda de violência em Port Said no sábado - mais cedo, a imprensa já informava ao menos 39 mortos.
A revolta começou após a condenação à pena de morte de 21 suspeitos de envolvimento na briga entre as torcidas do Al Ahly e do Al Masry, no que foi a maior tragédia do futebol egípcio. O massacre engrossou os protestos violentos contra a junta militar que governava o país após a queda do ditador Hosni Mubarak.
O conselho pediu um "amplo diálogo nacional que conte com a presença de personagens independentes nacionais" para discutir as diferenças políticas e garantir uma eleição parlamentar "justa e transparente", disse o ministro em declarações televisionadas.
Apelos do presidente e de seu governo por diálogo nacional foram desprezados pelo principal grupo liberal de oposição, que acusa Mursi e seus aliados de ignorar quaisquer posições de oposição.
A violência que eclodiu primeiro na quinta-feira, véspera do aniversário de uma revolta que começou em 25 de janeiro de 2011, destacou as profundas divisões no Egito e exerceu peso sobre um pleito parlamentar que pode ter início em abril.
Confrontos
Os confrontos aconteceram depois que familiares e amigos dos suspeitos do massacre tentarem invadir a prisão onde estavam os acusados. Houve uma reação violenta à repressão policial e pelo menos dois agentes e 24 manifestantes morreram nos enfrentamentos. Outras 300 pessoas ficaram feridas na ação.
O diretor do Departamento de Hospitais de Port Said, Abderrahman Farah, disse que 20 deles morreram após disparos de armas de fogo, enquanto dois não resistiram a hemorragias internas. As causas das mortes dos outros quatro são desconhecidas.
O Exército foi chamado para tentar conter a violência na região do tribunal e evitar que os protestos tomem maiores proporções em Port Said.
A segurança de outras cidades, como Suez e Cairo, também está reforçada por causa do aniversário de dois anos da revolta que derrubou Mubarak.
Os acusados podem recorrer da decisão de condenação, que será enviada ao mufti (líder islâmico supremo) egípcio, que tem o poder para rejeitar ou respaldara decisão judicial.
Outros 52 acusados ainda serão julgados em 9 de março, incluindo três agentes de segurança suspeitos de envolvimento no massacre.
A sentença foi lida em clima tenso, pois torcedores do Al Ahly ameaçaram mais atos violentos se os suspeitos não fossem condenados à morte.
Eles também disseram que instalarão "o caos" se a pena não for cumprida.O juiz pediu calma diversas vezes durante a leitura do veredicto e em outros momentos do julgamento.
Após a divulgação da decisão, as famílias dos mortos comemoraram. Um homem desmaiou e outros manifestantes choraram enquanto carregavam fotos de mortos na tragédia no estádio.
Tragédia
O massacre aconteceu em 1º de fevereiro de 2012, após uma partida em Port Said entre o Al Ahly, do Cairo, e o Al Masry, da cidade. Na ocasião, o time cairota perdia para o local por 3 a 1 quando centenas de torcedores do Al Masry invadiram o campo e lançaram pedras e garrafas contra torcedores do Al Ahly.
Agentes de segurança tentaram conter a violência, mas não conseguiram controlar os ânimos no estádio. Pelo menos 74 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Nos dias seguintes à tragédia, mais 16 pessoas morreram em protestos no Cairo e em Suez.
Grupos de torcidas organizadas de ambos os times acusaram aliados do ditador Hosni Mubarak de estarem infiltrados entre os torcedores para poder provocar o confronto. A maioria dos grupos é de aliados políticos das forças que coordenaram a revolta que derrubou o ex-mandatário em 2011.
A tragédia abalou os dois times e suas torcidas. O time do Al Ahly joga desde fevereiro com uma faixa preta amarrada na camisa em sinal de luto. O símbolo foi usado inclusive no jogo contra o Corinthians pelo Mundial de Clubes, em dezembro.
A ação acontece um dia depois da morte de nove manifestantes em protestos contra o governo do presidente Mohamed Mursi em diversas cidades egípcias. Centenas de pessoas ficaram feridas nas ações violentas, feitas no dia em que se comemoram os dois anos do início da revolta que derrubou Mubarak.