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O clichê é inevitável: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Em síntese, essa pode ser a situação de muitas espécies animais conforme o aquecimento global avança. Elas correm o risco de simplesmente não ter para onde ir conforme seus habitats vão encolhendo até sumir, indica um novo estudo.

Os indícios, levantados por uma equipe internacional de pesquisadores, vêm da história evolutiva de um dos mamíferos mais belos do mundo, a raposa-do-ártico (Alopex lagopus). O bicho, dono de uma pelagem branca e densa durante o inverno, já foi comum em toda a Europa Ocidental, inclusive em lugares tão ao sul quanto a Bélgica, durante o Pleistoceno (a Era do Gelo, que terminou há cerca de 10 mil anos). Com o aumento da temperatura da Terra que causou o fim do Pleistoceno, a distribuição geográfica da raposa-do-ártico encolheu, embora ainda seja bastante grande: engloba a Escandinávia, a Sibéria, o Alasca, o Canadá e a Groenlândia.

A equipe liderada por Love Dalén, do Centro de Evolução e Comportamento Humanos de Madri (Espanha), queria entender o que aconteceu exatamente com a espécie no fim do Pleistoceno. Já se sabe que, ao longo da Era do Gelo, ela não vivia na Escandinávia, pois a região estava coberta por gelo (aparentemente) eterno nessa época. Alguns pesquisadores propunham que as populações de raposa ao sul da Europa, conforme a coisa ia esquentando, foram migrando para o norte, até alcançar sua distribuição escandinava atual.

Mas faltava testar a idéia com fatos. Para tanto, a equipe conseguiu extrair pequenos fragmentos de DNA de fósseis de raposa datados da Era do Gelo. Esse material genético foi comparado a trechos similares de DNA dos bichos que hoje existem na Escandinávia e na Sibéria, para tentar desvender a origem de cada população de raposa-do-ártico.

E os resultados parecem ter derrubado de vez a idéia de que os bichos conseguem se antecipar às mudanças rápidas e fugir para ambientes mais hospitaleiros. Isso porque o DNA mostrou um parentesco claro entre as raposas escandinavas e as da Sibéria, enquanto as da Europa da Era do Gelo aparentemente não deixaram descendentes. O cenário mais provável, de acordo com os pesquisadores, é que a Escandinávia tenha sido colonizada por raposas siberianas, que sempre viveram em ambiente frio e não precisaram fugir do calor do sul - pelo menos até agora.

O que isso significa para a fauna do mundo? Provavelmente uma péssima notícia, caso o aquecimento se agrave para vale. A raposa-do-ártico é conhecida por ser um bicho altamente móvel, com facilidade de dispersar sua população. Se ela não conseguiu se safar a tempo da onda de calor, outras espécies menos móveis hoje provavelmente teriam muita dificuldade também.

A pesquisa está na edição desta semana da "PNAS", uma das principais revistas científicas dos Estados Unidos.

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