O senador boliviano Roger Pinto, que fugiu de seu país rumo a Brasília, cancelou a ida que faria nesta terça-feira (27) ao Senado depois que sua fuga de La Paz com cumplicidade diplomática brasileira levou à renúncia do chanceler Antonio Patriota, informaram fontes parlamentares.

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"Em sua condição de asilado, (Roger Pinto) não quer esticar a corda em um embate político depois da renúncia de Patriota e, provavelmente, não deseja prejudicar a relação com o governo" brasileiro, declarou o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço.

O parlamentar, que tinha promovido o comparecimento de Roger Pinto na comissão, disse que o senador boliviano "agradeceu a oportunidade mas pediu compreensão pois deve se preocupar com sua própria situação".

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Nesta segunda-feira (26), quando ficou claro que o político saiu da Bolívia sem o salvo-conduto e com a ajuda dos funcionários da embaixada brasileira em La Paz, o até então ministro das Relações Exteriores decidiu apresentar sua renúncia, que foi imediatamente aceita pela presidente Dilma Rousseff.

O advogado de Roger Pinto, Fernando Tibúrcio, disse que conversou com seu cliente sobre o assunto e decidiram que "não era conveniente" ir ao Senado, sobretudo depois que sua turbulenta chegada ao Brasil levou à renúncia de Patriota.

Roger Pinto, um inflamado opositor do governo de Evo Morales, estava na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012.

O governo brasileiro concedeu asilo político ao senador dez dias depois, mas o parlamentar não podia deixar seu país pois a Bolívia não deu a ele um salvo-conduto, alegando que Roger Pinto responde a vários processos por corrupção.

Na sexta-feira passada, no entanto, o senador fugiu da embaixada em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais e foi até Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

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Nesta cidade, foi recebido por agentes da Polícia Federal e de lá seguiu até Brasília em um avião privado enviado pelo próprio Ferraço, quem o esperou no aeroporto na madrugada de domingo.

Ferraço foi quem deu os primeiros detalhes sobre a saída de Roger Pinto da Bolívia, que para o governo de Evo Morales nada mais foi do que a "fuga" de um "criminoso comum".

Ao saber da situação, Patriota anunciou que o caso seria "investigado", seriam tomadas "as medidas administrativas e disciplinares" correspondentes e convocou para consultas o encarregado de negócios na embaixada em La Paz, Eduardo Saboia.

O funcionário chegou a Brasília na segunda-feira de manhã e, no aeroporto, disse a jornalistas que tinha "ajudado" o senador por razões humanitárias.

"Tomei a decisão porque havia um risco iminente para sua vida e uma ameaça à dignidade de uma pessoa", declarou Saboia, que assumiu a responsabilidade sobre o caso e disse que tinha optado "pela vida" e por "proteger" um "perseguido político".

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O governo boliviano exigiu "explicações" do Brasil pela "fuga" do senador, a quem classifica de "foragido da justiça".

O mal-estar foi manifestado nesta segunda-feira em La Paz pelo chanceler boliviano, David Choquehuanca, que por meio de uma nota expressou a "profunda preocupação" da Bolívia com "a transgressão do princípio de reciprocidade e cortesia internacional".

Choquehuanca afirmou que não é possível que sob "o amparo da imunidade diplomática se transgridam normas nacionais e internacionais, facilitando neste caso a fuga" de Roger Pinto.