Uma série de ataques reivindicados pela milícia terrorista Estado Islâmico nesta segunda-feira (23) deixou pelo menos 148 mortos em Tartus e Jableh, na Síria. As duas cidades são redutos do regime do ditador Bashar al-Assad e foram relativamente poupadas pela guerra que devasta a Síria há cinco anos.
Esta é a primeira vez que a região, próxima ao mar Mediterrâneo, passa por atentados desta magnitude desde o início da guerra civil, em 2011. A maioria da população das cidades é alauita, vertente islâmica à qual pertence o ditador.
Os ataques ocorrem num momento em que o EI enfrenta uma pressão crescente na Síria e no Iraque, onde as forças do governo lançaram nesta segunda-feira a batalha para expulsar os jihadistas da cidade de Fallujah. O EI também reivindicou um duplo atentado no Iêmen, que matou pelo menos 41 pessoas, em sua maioria jovens recrutas do exército em Aden.
Segundo a agência de notícias estatal Sana, a primeira ação foi em um terminal de ônibus e um posto de gasolina de Tartus. Um suicida se explodiu e, na sequência, um carro-bomba foi detonado, matando mais de 20 pessoas.
“Esta é a primeira vez que ouvimos explosões em Tartus e que vemos mortos e corpos desmembrados”, testemunhou Shadi Othman, um bancário de 42 anos que visitou o local das explosões.
Quinze minutos depois, outras explosões simultâneas ocorreram em Jableh, 60 km ao norte, em frente a uma estação rodoviária, na companhia de energia elétrica e em dois hospitais, segundo uma fonte policial.
Em Jableh, informou a agência, os extremistas dispararam três foguetes e usaram homem-bomba para atingir quatro prédios, incluindo um hospital. Os ataques provocaram a morte de 48 pessoas.
“No Hospital Nacional, um suicida detonou seu cinturão de explosivos no setor de emergência, enquanto no Al-Assaad um carro-bomba explodiu na entrada”, informou a fonte.
A televisão estatal síria exibiu imagens de veículos incendiados, sangue, fumaça e vidro.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo opositor sediado em Londres, afirma que mais de cem pessoas foram mortas nas ações. As informações não podem ser confirmadas de forma independente devido às restrições na Síria.
As ações foram reivindicadas pelo Estado Islâmico por meio de nota na agência de notícias Amaq, vinculada à facção terrorista. No comunicado, os extremistas dizem terem agido em vingança ao regime de Assad.
As províncias de Tartus e Latakia, onde fica Jableh, abrigam também bases militares da Rússia. Os militares do país participam desde o ano passado de operações com as autoridades sírias contra os extremistas islâmicos.
Os atentados acontecem no momento em que o Estado Islâmico está perdendo seus domínios na Síria e no Iraque em virtude das operações militares lançadas tanto pelo regime sírio e a Rússia quanto pela coalizão liderada pelos EUA.
Com isso, aumentou o número de atentados terroristas reivindicados pela milícia terrorista em cidades dos dois países. O último deles, na última terça (17), deixou 69 mortos em bairros de Bagdá.
‘Cidade paralisada’
“Esta é a primeira vez que Tartus é atingida pela guerra (...) eu vi da minha janela as pessoas correndo com medo, lojas fechadas e uma cidade completamente paralisada”, relatou Merhi, um pintor.
Os ataques seguem o modus operandi da Al-Qaeda, da qual se originou o EI, que reivindicou os ataques de acordo com a agência Amaq, ligada à organização ultrarradical.
O grupo não tinha uma presença conhecida na costa da Síria, ao contrário da Frente Al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda, que combate o regime na província de Latakia. Mas a organização conta com células adormecidas para atacar seus inimigos.
Se a reivindicação for confirmada, será um forte golpe do EI para mostrar que ainda está em ação, apesar das suas derrotas no oeste do Iraque e no leste da Síria.
Após os ataques, os moradores de Tartus culparam os refugiados de Aleppo e Idleb, que são redutos dos rebeldes, com a acusação de “simpatia para com o terrorismo”.
Tartus e Jableh abrigam respectivamente a base naval e o aeroporto militar das forças do contingente russo que apoia o regime de Assad.
“O aumento das tensões e atividades terroristas na Síria só pode suscitar grande preocupação”, reagiu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, cujo país lidera há oito meses ataques aéreos contra os opositores do regime Assad.
Os ataques “demonstram mais uma vez o quão frágil é a situação na Síria e a necessidade de tomar medidas fortes para reavivar o processo de paz”, acrescentou.
“Os ataques com carros-bomba cometidos hoje pelo Daesh (sigla em árabe do EI) em Tartus (...) são odiosos”, afirmou o governo da França.
São os ataques mais violentos desde os de 16 de abril de 1986, quando bombas explodiram em Tartus e outras áreas próximas, o que provocou 144 mortes. As autoridades acusaram na ocasião a Irmandade Muçulmana com o apoio financeiro do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein.
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