O brasileiro David Miranda e a ONG Avaaz, especializada em petições on-line, iniciaram campanha que pretende obter asilo no Brasil a Edward Snowden, o ex-técnico da NSA (Agência de Segurança Nacional, em inglês) que revelou ao mundo a extensão do programa de espionagem dos EUA.

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O abaixo-assinado a favor da vinda de Snowden para o país reuniu mais de 8,5 mil assinaturas até o início da noite de hoje (17) - a petição, aberta em 21 de novembro, continha apenas 2,6 mil nomes pela manhã.

O impulso se deu após a Folha de S.Paulo ter publicado, na edição de hoje, uma carta aberta de Snowden "ao povo brasileiro". No documento, ele diz querer colaborar com as autoridades brasileiras nas investigações sobre a atuação da NSA no país, mas afirma que o governo americano continuará interferindo em sua capacidade de falar "até que um país conceda asilo político permanente".

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A reportagem apurou que ele busca a condição de asilado no país em troca de ajudar com seu conhecimento sobre o monitoramento americano. Em sua página no Facebook, Miranda compartilhou o link do texto do jornal, pedindo que seus amigos também assinassem a petição. Mais cedo, ele também divulgara a íntegra da carta de Snowden, em inglês.

Miranda e o diretor da Avaaz, Michael Freitas Mohallem, deram entrevistas afirmando que o Brasil é o melhor país para abrigar o americano, que atualmente vive na Rússia, país que em 1º de agosto de 2012 lhe concedeu asilo temporário com duração de um ano.

Em mensagem publicada no site da Avaaz, Miranda afirma que o Brasil é o "país mais adequado para abrigar alguém que denuncia irregularidades" e destaca que a presidente Dilma Rousseff "fez um discurso veemente na ONU denunciando a espionagem".

Diz ainda que "Edward está ficando sem tempo" e que, dadas as condições para a permanência dele na Rússia, "não pode falar com a imprensa ou ajudar jornalistas e ativistas a entender melhor como funciona a máquina norte-americana de espionagem mundial". "Se Snowden estivesse no Brasil, é possível que ele pudesse fazer muito mais para ajudar o mundo a entender como a NSA e aliados estão invadindo a privacidade de pessoas no mundo todo, e como podemos nos proteger", afirma.

Miranda chegou a afirmar ao jornal "O Estado de S. Paulo" que, "se quiser", o Brasil "pode enviar um avião para fazê-lo [dar asilo a Snowden]."

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Críticas

O jornalista americano Glenn Greenwald, namorado de Miranda, criticou a reportagem e a cobertura da mídia internacional sobre a carta de Snowden, em especial por meio de sua conta no Twitter. Pediu a seus mais de 309 mil seguidores que não confiassem "no que os veículos de imprensa dizem" e que, em vez disso, lessem a íntegra da carta.

Em e-mail ao site BuzzFeed, Greenwald afirmou que Snowden "já pediu asilo ao Brasil e a vários outros governos meses atrás, e isso ainda está pendente".Conforme já dizia a reportagem da Folha de S.Paulo, em julho passado, quando o ainda estava impedido de deixar a área internacional do aeroporto de Moscou, Snowden enviou pedidos de asilo genéricos a dezenas de países, incluindo o Brasil, que afirmou que não consideraria nem o mérito da mensagem, já que não havia sido encaminhada de maneira apropriada.

"O Brasil não vai reagir à carta com pedido de asilo. O pedido circulou em carta genérica. A concessão de asilo não é feita de modo automático. O cidadão [Snowden] sequer está em uma embaixada do Brasil", afirmou naquela ocasião o então porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes.Segundo Greenwald, o informante tampouco condicionou o fornecimento de informações sobre o esquema de espionagem dos EUA à concessão de asilo. De acordo com ele, Snowden quis explicar por que não tem podido atender aos pedidos de ajuda feitos por senadores brasileiros e outras autoridades do país.

O texto escrito por Snowden é parte da estratégia construída para que ele obtenha asilo no país. Outra etapa é a campanha baseada no site da Avaaz.

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O texto publicado pela Folha de S.Paulo diz que a carta de Snowden não dirige um pedido de asilo de forma direta à presidente Dilma Rousseff, justamente para não melindrar o governo russo, que o hospeda.