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O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, encerrou nesta quarta-feira sua viagem por cinco países latino-americanos, com a agenda divida entre o livre comércio e a pressão para fazer mudanças na política de imigração americana. Para analistas, o triunfo do giro a bordo do Air Force One foi parcial. Se por um lado o líder de Washington se rendeu ao etanol brasileiro e pavimentou o caminho para atenuar a dependência do petróleo, por outro não conseguiu aplacar a fúria de milhões de pessoas cujas vidas são marcadas pelo drama da imigração ilegal, principalmente para mexicanos - grande maioria dos cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais nos EUA. Para completar, durante a viagem pela América Latina, Bush foi assaltado por uma enxurrada de más notícias vindas de Washington. Após novo encontro com o presidente mexicano, Felipe Calderón, nesta quarta-feira, quando voltou a discutir imigração e educação, Bush voltou para a Casa Branca, em Washington.

Numa região em que ele sofrer de falta de popularidade, Bush tentou polir a própria imagem. Misturou-se a agricultores pobres da Guatemala, dançou com jovens paulistanos e visitou ruínas maias no México, o tipo de passeio turístico que, geralmente, ficava de lado em viagens anteriores dele.

Mas Bush foi assombrado durante a viagem pela retórica ''Fora, Gringo'' do venezuelano Hugo Chávez, enquanto protestos nas ruas de algumas cidades visitadas por ele mostram como é profunda a rejeição ao presidente americano.

Na Cidade do México, centenas de manifestantes jogaram pedras contra a tropa de choque que protegia a embaixada dos EUA. Havia cartazes chamando Bush de assassino. "Não o queremos como vizinho'', diziam as placas. A polícia devolveu as pedradas e depois usou gás lacrimogêneo para dispersar o grupo. Alguns policiais ficaram feridos, e três manifestantes foram presos, segundo a polícia.

Os presidentes do México, da Guatemala e da Colômbia pressionaram Bush a se empenhar numa reforma que torne menos rígida as leis de imigração nos EUA e que levem à legalização de cerca de 12 milhões de estrangeiros clandestinos no país.

O tema deve voltar a surgir na conversa de quarta-feira de Bush com o mexicano Felipe Calderón, que se queixou explicitamente na terça-feira dos planos americanos de construírem um muro em parte da fronteira entre os dois países.

Segundo Calderón, enquanto os EUA forem ricos em capital e o México for rico em mão-de-obra, "a migração não poderá ser contida, e certamente não por decreto''. O antecessor de Calderón, Vicente Fox, passou seu mandato tentando sem sucesso um acordo de imigração com Bush.

Para o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, a viagem de Bush foi apenas uma obra de marketing político.

- Ele veio tirar fotos com alguns presidentes latino-americanos. Esteve na Guatemala, no México, mas não trouxe absolutamente nada - comentou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, um esquerdista crítico das política neoliberais. - O presidente Bush não foi bem preparado para essa visita.Mudança de ares

O México é a última parada da turnê latino-americana de Bush, que começou pelo Brasil e ainda incluiu Uruguai , Colômbia e Guatemala. Imigração, narcotráfico, luta contra a miséria, acordos bilaterais e biocombustíveis foram os assuntos que dominaram as conversações de Bush na região.

No giro, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, prometeu "trabalhar intensamente" para que o Congresso americano, dominado pela oposição, aprove o Tratado de Livre Comércio entre seu país e as nações latino-americanas. Segundo Bush, os Estados Unidos estão preparados para reduzir subsídios agrícolas mas querem assegurar acesso de seus produtos a mercados.

- O livre-comércio é importante. É um portal. Cria empregos na América e cria empregos aqui - afirmou o presidente dos Estados Unidos.

Bush e Lula

Destacando os aspectos positivos do uso dos combustíveis alternativos - como ganhos ambientais e geração de renda - Bush exaltou o etanol brasileiro, em encontro com o presidente Lula, em São Paulo. O presidente americano se rendeu à cana-de-açúcar que, segundo ele, " é de longe a fonte mais eficiente para a produção do biocombustível ". Mas, apesar de os dois países terem assinado um acordo no setor, Bush negou qualquer possibilidade de baixar a sobretaxa do nosso etanol agora. Os EUA cobram um imposto de US$ 0,54 por litro do etanol que entra no país. O país cobra ainda 2,5% de taxas alfandegários sobre as importações do biocombustível.

- Qualquer mudança poderá ser aprovada apenas após 2009 pelo Congresso - disse Bush, que disse esperar que os EUA saltem dos atuais 5 bilhões de galões de etanol produzidos diariamente para 35 bilhões até 2017. - Dependendo de petróleo, temos uma questão de segurança nacional. Nossa dependência do combustível de outra pessoa significa que estamos dependentes de suas decisões - afirmou.

Visita de Bush é 'vitória parcial'

Para o historiador José Flávio Sombra Saraiva, professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri), a visita do presidente George W. Bush ao Brasil consolidou a boa relação entre os dois países e "enterrou" as discussões sobre um possível viés antiamericanista no governo.

- De certa maneira, esta visita apazigua os corações - diz o cientista político Carlos Pio.

Apesar de otimistas com a visita de Bush à região e com os diversos acordos firmados, analistas políticos afirmam que as ações do líder americano em relação aos vizinhos latino-americanos chegam tarde e têm efeito limitado .

- Ao longo da minha vida, já vi várias visitas que visavam demonstrar boa vontade para com a América Latina. Essa é apenas mais uma. É preciso criar uma política externa capaz de interagir e de responder à região, mas essa chance nós deixamos passar nos últimos sete anos - disse Johanna Mendelson Forman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.

Desde que foi anunciada, a viagem de Bush foi apontada como uma forma de conter o papel do líder da Venezuela, Hugo Chávez, na região.

O pacote de ajuda econômica aos países latino-americanos anunciado por George W. Bush na semana em que ele viajou para a América Latina foi taxado pela imprensa americana de ''pacote antiChávez'', numa referência à ajuda econômica propiciada a países da região pelos petrodólares do líder venezuelano, e a própria viagem foi classificada como ''turnê antiChávez''.

Para muitos, a viagem de Bush acabou ofuscada pelo líder venezuelano, que fez uma turnê por países latino-americanos excluídos do roteiro de Bush. De acordo com Peter Hakim, presidente do instituto de pesquisas Inter American Dialogue, ''a viagem é uma vitória para o presidente Bush, mas não uma vitória completa'', graças ao que chama de ''o efeito Hugo Chávez''.

No entender de Hakim, a retórica do líder da Venezuela teria inspirado os diversos protestos de rua registrados nos diferentes países visitados pelo presidente americano e isso minimizou os efeitos positivos da viagem ( Veja imagens dos protestos em São Paulo ).

- Para tentar reforçar os efeitos da visita, os Estados Unidos terão de buscar políticas eficazes. Caso contrário, os resultados benéficos da viagem terão vida curta - disse.

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