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Um "pesadelo logístico". É assim que Elisabeth Byrs, porta-voz das Nações Unidas, avalia as dificuldades enfrentadas nas operações de ajuda humanitária às vítimas do terremoto da última terça-feira no Haiti. Segundo a ONU, não faltam provisões nem efetivo para os trabalhos, vindos de todo o mundo. O problema é localizar as pessoas presas sob os escombros e levar água, comida e remédios aos sobreviventes.
Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), agência das Nações Unidas responsável pela ajuda alimentar, os danos à infraestrutura portuária de Porto Príncipe dificultam as entregas por mar para a região da capital.
O PAM informa que o aeroporto da capital está aberto, mas enfrenta dificuldades em razão da grande quantidade de voos que chegam com doações e equipes de trabalho.
O membro da Coordenação e Avaliação de Desastres das Nações Unidas (Undac), Renato Lima, de 47 anos, explica que as dificuldades logísticas são normais no atendimento a catástrofes naturais. "Nas situações desse tipo de desastre é sempre difícil fazer chegar, nos primeiros dias, a ajuda a quem necessita", afirma. "Caem edifícios, pontes e postes, bloqueando as estradas."
Experiente em missões de atendimento a desastres, Lima afirma que é comum, no início dos trabalhos, a ajuda chegar aonde não precisa e não chegar aonde é necessária. "Pessoas que precisam de água recebem remédio, quem precisa de remédio recebe comida e assim por diante", conta. "Nesse momento a necessidade maior é coordenar as informações, enviar (as provisões) a quem precisa daquele tipo específico de ajuda."
Segundo o professor, o grande desafio é reunir conhecimento, experiência e capacidade operacional, o que exige itens como sistemas de comunicação e pessoas para operá-los , meios de transporte e mapamento.
Caos
Muitos dos desesperados sobreviventes, que temem novos tremores, ocupam as vias, dificultando o transporte de alimentos e remédios, por exemplo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que houve sérios danos em pelo menos oito hospitais de Porto Príncipe, que atrasam o auxílio para milhares de feridos. Vários hospitais ficaram destruídos, mas a organização Médicos Sem Fronteiras encontrou dois em boas condições, onde tem trabalhado.
"Pela experiência que tenho, em uma situação de desastre extremo a população fica emocionalmente abalada", conta o professor. "As pessoas adquirem um comportamento agressivo pela perda de parentes e propriedades, e por falta de perspectivas de enfrentamento. Em muitas situações vi ser decretado toque de recolher e disputa por alimentos e água."
Conflitos acirrados
Para Lima, no Haiti, onde já havia disputas internas, os conflitos podem ficar ainda mais acirrados. "Isso dificulta a ajuda externa na substituição dos sistemas nacionais de resposta ao desastre, porque os atores internacionais passam a se preocupar com a segurança do próprio pessoal", explica. "Se a segurança não é garantida em todo o país, as áreas inseguras ficam menos assistidas."
O professor afirma ainda que os boatos e a desinformação causada pela inoperância dos meios de comunicação televisão destruída, rádio sem bateria e falta de energia para o computador, por exemplo geram um estresse adicional na sociedade.
As Nações Unidas comprometeram US$ 10 milhões para ajuda emergencial somados aos US$ 200 milhões de EUA e Banco Mundial , enquanto trabalhadores da entidade mundial e soldados da força de paz (os "capacetes azuis") enfrentavam suas próprias perdas. A sede central da ONU no Haiti foi destruída, deixando pelo menos 36 mortos e dezenas de desaparecidos.