Jorge Taiana (direita) cumprimenta o chanceler brasileiro Celso Amorim durante visita ao Itamaraty em 2007| Foto: Reuters

Jorge Taiana, peronista histórico e leal aliado do ex-presidente Néstor Kirchner e da presidente Cristina Kirchner, causou surpresa nesta sexta-feira ao apresentar sua renúncia "indeclinável" ao posto de chanceler, que ocupava há meia década.

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A chancelaria emitiu um comunicado no qual explicou que Taiana sentia "falta de apoio" do governo, além da existência de "diferenças irreconciliáveis" para "a implementação de decisões que afetam o desenvolvimento da política externa" argentina.

Informações extraoficiais indicam que Taiana - que estava cada vez mais indisposto com os rumos da política externa - manteve uma "forte discussão" com a presidente Cristina por telefone, antes de renunciar.

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O chefe do gabinete de ministros, Aníbal Fernández, em uma lacônica declaração à imprensa, anunciou que Taiana havia renunciado por "questões estritamente pessoais" e confirmou que o novo chanceler será Héctor Timerman, que até esta sexta-feira foi o embaixador argentino nos EUA.

Filho do falecido empresário jornalístico Jacobo Timerman - famoso por ter sido selvagemente torturado durante a ditadura - é considerado um "ortodoxo ultra-kirchnerista".

Héctor Timerman, ocupava o cargo de embaixador nos Estados Unidos desde dezembro de 2007. Foi cofundador e membro do diretório da organização Human Rights Watch e membro do diretório de Buenos Aires da Assembleia Permanente para os Direitos Humanos.

Analistas indicam que a designação de Timerman simboliza a confirmação dos rumos da política externa do governo. Segundo o ex-vice-chanceler Andrés Cisneros, "não podemos esperar uma mudança na política externa argentina, já que a forma como os Kirchners lidam com o poder torna indiferente quem está a cargo de um ministério ou de outro".

Nos últimos anos Taiana tentou desativar vários conflitos abertos pela presidente Cristina e seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Moderado, tentou suavizar as tensões com o Uruguai, causadas pela instalação da fábrica de celulose Botnia, além de fazer esforços para melhorar as complicadas relações com os Estados Unidos.

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Além disso, Taiana estava irritado por uma série de decisões que vários setores do governo haviam tomado, passando por cima da chancelaria. Um dos vários focos de divergências foi a recente ordem verbal do secretário de Comércio, Guillermo Moreno, de aplicar restrições à entrada de alimentos frescos do Brasil e da União Europeia (UE).

De quebra, desde o início deste ano surgiram indícios que o ministério do Planejamento da Argentina havia montado um esquema para forçar empresários argentinos interessados em exportar para a Venezuela a entrar em um esquema de pagamento de propinas.

Taiana também mantinha uma tensa relação com Timerman. O embaixador nos EUA, explicaram fontes diplomáticas, comportava-se como um "chanceler paralelo" e estava deslocando Taiana de diversas decisões.

No entanto, a relação de Taiana com a presidente Cristina teria começado a deteriorar-se aceleradamente a partir da cúpula do Mercosul realizada em Assunção em julho de 2009. Na ocasião, Cristina Kirchner, famosa por seus atrasos, chegou com uma hora de demora à reunião de cúpula. Na frente de todos, e ao vivo pela TV, Cristina Kirchner - para excusar-se do atraso - colocou a culpa em Taiana. "A culpa é de meu chanceler, que me informou de forma errada que a reunião começava em outra hora", disse em tom áspero. Taiana ficou calado, com o olhar fixo para o chão, visivelmente irritado.

A oposição, que ao longo dos últimos anos havia criticado a política externa do governo, hoje considerou que a administração Kirchner havia perdido um de seus elementos mais "moderados". Segundo Elisa Carrió, líder do partido de centro esquerda Coalizão Cívica, "foi embora a única coisa boa deste governo".

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