Enquanto organizações humanitárias relatam dificuldades em reduzir a fome na Coreia do Norte, China, Rússia e, principalmente, Coreia do Sul têm feito movimentos para tentar reduzir as sanções ao país governado por Kim Jong-un. A ministra sul-coreana das Relações Exteriores, Kang Kyung-wha, disse que o governo sul-coreano estuda a possibilidade de levantar sanções baixadas em 2010, proibindo comércio e comunicação com os vizinhos do norte.
Tais restrições em muitos casos se sobrepõem às que vem sendo impostas desde 2006 pelo Conselho de Segurança da ONU, e ampliadas a cada teste nuclear e de mísseis de Kim Jong-un. Por isso mesmo, Kang, que também é responsável pelo comitê de reunificação das Coreias, afirmou na quarta e reafirmou na quinta (11) que não há qualquer medida prática em vista.
Apesar da retórica dúbia, há sinais de algum relaxamento por parte dos sul-coreanos. O Ministério da Unificação, por exemplo, anunciou que voltou a fornecer água para norte-coreanos que vivem em Kaesong, na fronteira com o país do sul. Segundo o governo sul-coreano, o objetivo é abastecer o recém-criado escritório para negociações entre as Coreias, inaugurado em setembro deste ano. "Não há benefícios econômicos para a Coreia do Norte, portanto não fere o propósito das sanções da ONU", diz o comunicado oficial.
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As estações de tratamento e distribuição de água, porém, têm capacidade para fornecer 60 mil toneladas por dia, segundo a imprensa do país, o dobro da média de 30 mil toneladas fornecida até fevereiro de 2016, quando ainda funcionava ali uma zona industrial comum.
As sanções da ONU proíbem negócios com comércio de armas e exportação para a Coreia do Norte de petróleo, combustíveis, equipamentos e matérias primas. Também impedem a importação de produtos coreanos como carvão, minério de ferro, chumbo e pescados, e determinam a repatriação de todo norte-coreano que trabalhe no exterior - e, portanto, gere receita para seu país natal.
Também nesse caso, há sinais de que Kim Jong-un tem conseguido contornar algumas das restrições. Reativar a economia da Coreia do Norte foi tema central no discurso do ditador no começo deste ano.
Um relatório da ONU obtido pelo site Foreign Policy cita um grupo de 300 empresas e cidadãos estrangeiros, de cinco países, que vêm negociando com norte-coreanos. Chineses, com 215 envolvidos, e russos, com 39, são os mais citados pelo documento.
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Além disso, imagens de satélite divulgadas nesta semana pela agência NK News mostram um aumento de embarcações norte-coreanas em portos do nordeste da China, onde seria possível o transporte de carvão, alvo de uma das banições da ONU -a China é responsável por 90% das exportações da Coreia do Norte.
Em março, a ONU já havia decretado punições contra 27 navios, 21 transportadoras marítimas e um empresário que exportaram combustíveis para a Coreia do Norte e transportaram carvão mineral.
Na quarta (10), segundo a agência Reuters, o Minitério das Re”Coreia dolações Exteriores da China divulgou um documento no qual China, Russia e Coreia do Norte pedem relaxamento nas sanções da ONU.
Ainda que a ajuda humanitária passe, em tese, ao largo das restrições, entidades tem relatado que a burocracia provocada pelos vários decretos de sanções estão impedindo a chegada de ajuda aos civis norte-coreanos. Além das barreiras da Coreia do Sul e da ONU, há outras decretadas pela Europa e pelos Estados Unidos.
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Nesta terça, o Programa Alimentar Mundial afirmou que 40% da população precisa de ajuda humanitária: 10 milhões de norte-coreanos, segundo a entidade, sofrem de desnutrição.
Em dois documentos diferentes da União Europeia e um da ONU, obtidos pela agência NK News, ONGs que trabalham na Coreia do Norte relatam dificuldades como a impossibilidade de fazer seguros, já que a única empresa seguradora está nas listas negras da ONU, da Europa e dos EUA.
As entidades também dizem que não é possível trazer ao país itens como roupa de baixo masculina, pijamas, aspiradores de pó, secadores de cabelo, torradeiras, pipas e bolas de críquete, entre outros considerados como "possíveis de terem uso militar". É difícil também importar cadeiras de roda e muletas, segundo a ONG francesa Handicap International, e a Cruz Vermelha sueca relata dificuldades para trazer tubos de água e equipamento de água feitos de aço, um dos itens proibidos.
As ONGs também reclamam com as sanções a pagamentos a colaboradores locais, segundo os relatórios. É proibido a elas fazer negócios com bancos da Coreia do Norte, e bancos dos membros da ONU não podem transferir dinheiro a norte-coreanos, o que força as entidades a trazer dinheiro em espécie.