O aborto antes de 12 semanas de gravidez foi descriminalizado nesta terça-feira (24) por 46 votos a favor, 19 contra e uma abstenção, pela Assembléia Legislativa da Cidade do México (ALDF), dominada pela esquerda.
A votação aconteceu depois de quase sete horas de debates com o apoio do Partido da Revolução Democrática, de esquerda, ao qual se somou o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e outras quatro formações pequenas, enquanto que o conservador Ação Nacional (PAN, governo federal) votou contra.
A sociedade mexicana se apresentava profundamente dividida em relação ao assunto.
Segundo legisladores e membros da hierarquia católica, no centro deste debate estão duas concepções diferentes sobre o que é o ser humano.
Enquanto os conservadores e a Igreja afirmam que a vida obedece a uma lei natural que não pode ser modificada, a filosofia e a ciência política liberais consideram que os seres humanos não têm destino predestinado, mas que este é uma responsabilidade íntima e social que pode mudar todos os dias.
Considerada pelos conservadores como parte de uma "cultura de morte", a iniciativa que elimina as sanções penais ao aborto até as 12 primeiras semanas de gravidez na Cidade do México atenta contra o princípio religioso, segundo o qual a vida começa na concepção.
Para a esquerda mexicana, no entanto, "esta iniciativa muda a história" da capital do país "porque leva as pessoas a considerarem a mulher como sujeito de direito e não como objeto de proteção", comentou a deputada Carla Sánchez, do Partido Alternativa.
"Trata-se de decidir o curso que seguirá nossa vida e nossa maternidade", afirmou a deputada.
Antes, a alguns dias da votação da iniciativa que amplia os casos de descriminalização do aborto na Cidade do México, a discussão entre grupos contra e a favor se intensificava e os deputados favoráveis chegaram a ser alvo de ameaças, inclusive de morte, e alertas de atentados a bomba.
Em uma tela de plasma, os manifestantes contrários ao aborto exibiam em plena rua vídeos sobre a concepção, casos de aborto e um anúncio comercial do famoso ator Roberto Gómez Bolaños, conhecido por interpretar os personagens "Chaves" e "Chapolim", um dos contrários à iniciativa.
O aborto na Cidade do México é permitido nos casos de estupro, risco para a saúde da mulher, malformação genética e inseminação artificial não-autorizada.