Quito - A Colômbia aventou ontem a possibilidade de sair da União de Nações Sul-Americana (Unasul) devido ao que vê como falta de sensibilidade dos países vizinhos em relação ao combate ao terrorismo e ao narcotráfico. O anúncio veio no dia seguinte a encontro de chanceleres e ministros da Defesa do bloco, em Quito, em que Bogotá ficou isolada ao se recusar a dar explicações sobre um pacto militar firmado com os EUA.
"Se esse impasse se perpetuar e não ficar evidente uma preocupação pelo armamentismo, o tráfico de armas, o narcotráfico, o crime organizado; se não houver sensibilidade por esses temas que são os dos colombianos, a possibilidade (de sair da Unasul) precisaria ser avaliada, disse o ministro colombiano da Defesa, Gabriel Silva.
A declaração se inscreve na estratégia de defesa do governo colombiano contra as críticas dos 11 outros países da Unasul ao pacto assinado com a Casa Branca para permitir o uso de sete bases colombianas por tropas americanas.
A Colômbia alega que a ajuda norte-americana é indispensável para combater os cartéis da droga e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e se recusa a dar garantias formais por escrito de que os EUA não usarão as bases para atacar outros países.
Intimada na reunião de Quito a dar explicações, Bogotá se disse incompreendida e exigiu que as mesmas cobranças de transparência fossem feitas aos acordos para compra de equipamento de guerra recém-firmados entre Brasil e França e entre Venezuela e Rússia.
O ministro Silva rejeitou ontem acusações de que a Colômbia teria feito naufragar o encontro e reiterou as queixas, feitas na véspera em entrevista, de que os países da Unasul se focam na questão das bases em detrimento de outros temas sensíveis para a segurança da região.
Para Silva, houve uma "aliança contra Bogotá. Não há perspectiva de retomada das conversas sobre o tema.
Desconforto
A Colômbia nunca se sentiu confortável na Unasul, tendo aderido relutantemente ao bloco criado no ano passado por impulso do Brasil. A saída da Colômbia da Unasul, que funciona na base do consenso, praticamente enterraria o bloco em seu formato atual.
A suposta intransigência da Colômbia, criticada na véspera pelo Brasil e pela Bolívia, foi questionada também pela Argentina.
"Houve um grande esforço (na reunião) e se trabalhou muito na construção de confiança e consenso. Todos demonstramos flexibilidade, todos contribuímos, mas, na verdade, houve muito pouca flexibilidade do lado da Colômbia, disse o chanceler Jorge Taiana antes de deixar Quito.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que o comportamento da Colômbia "dá pena. "A Colômbia não quer dar garantias. Em todo caso, não insistiremos em garantias, porque, se há alguma garantia, é que essas bases vão, sim, ser usadas contra nós (a Venezuela), afirmou.