Os exames de DNA para determinar a identidade dos filhos adotivos da dona do Grupo Clarín, Ernestina Herrera de Noble, que podem ter sido sequestrados e retirados dos pais biológicos durante a ditadura militar argentina (1976-1983), começaram a ser feitos nesta segunda-feira no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG) da Argentina. Os dois herdeiros, Marcela e Felipe Noble Herrera, disseram ser contrários ao exame, alegando que o laboratório não lhes oferece garantias suficientes e que não querem conhecer a própria identidade de origem.
O BNDG, uma entidade humanitária, suspeita que os dois foram retirados de pais desaparecidos pela ditadura e conseguiu que a justiça ordenasse o exame para determinar as suas identidades. O BNDG guarda amostras de DNA de centenas de famílias de desaparecidos políticos na época da ditadura.
Os irmãos se consideram reféns num assunto que, afirmam, é privado. O caso se politizou por causa do confronto da presidente Cristina Kirchner com o Grupo Clarín, o maior da mídia na Argentina. O Grupo Clarín é presidido por Ernestina Herrera de Noble, que em 1976 adotou Marcela e Felipe, num processo que, segundo muitas testemunhas, foi cheio de irregularidades e que motivou a detenção da empresária durante vários dias em 2002. O juiz que ordenou a prisão de Ernestina foi destituído.
Técnicos do banco começaram nesta segunda-feira a perícia das peças íntimas retiradas de Marcela e Felipe Noble Herrera na frente dos peritos e de advogados dos dois e de grupos de defesa dos direitos humanos que apoiam a realização do exame.
Pela lei, o BNDG está em vias de passar às mãos do Ministério da Ciência da Argentina, o que, no marco da disputa entre o governo e os meios de comunicação, coloca em dúvida a confiabilidade do laboratório, afirma a família Noble Herrera.
Marcela se mostrou contrária ao exame de DNA. "Fica a dúvida: Para quê serve isso?" ela disse à Associated Press.
Entre os grupos favoráveis ao exame de DNA, está o das Avós da Praça de Maio, formado por mães e parentes de desaparecidos. Berta Shuberoff, que participa do grupo, disse que a entidade respeita a vida privada dos jovens, mas afirma que eles precisam conhecer qual é sua origem, porque existem centenas de famílias que estão em busca, há mais de 30 anos, de bebês que foram sequestrados.
"Queremos que saibam quem são. A partir daí, eles são donos das suas vidas", disse Schuberoff, que encontrou sua neta, Macarena Gelman, graças à intervenção do BNDG.