Manifestantes simularam uma matança em protesto por um acordo entre os países que participam da conferência| Foto: Reuters

A maior e mais importante conferência sobre mudanças climáticas da história foi aberta nesta segunda-feira. Os organizadores disseram a diplomatas de 192 países que esta pode ser a melhor e última chance para um acordo que proteja o mundo do desastroso aquecimento global. Também nesta segunda-feira, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos tomou uma decisão histórica e concluiu que os gases poluentes, entre eles o dióxido de carbono, são prejudiciais à saúde pública e devem ser controlados.

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O anúncio da EPA ocorre no momento em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tenta lançar a política para combater as mudanças climáticas, embora o Congresso americano ainda não tenha formulado uma lei para isso.

A conferência de duas semanas em Copenhague, o clímax de dois anos de contenciosas negociações, transformou-se em grande expectativa após uma série de promessas por parte de países ricos e em desenvolvimento para desacelerar suas emissões de gases de efeito estufa, mas importantes questões ainda precisam ser resolvidas. A presidente da conferência, Connie Hedegaard, disse que a chave para um acordo é encontrar uma forma de elevar e canalizar recursos públicos e privados para países pobres nos próximos anos, com o objetivo de ajudá-los a lutar contra os efeitos das mudanças climáticas.

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Hedegaard, ministra do Clima da Dinamarca, disse que se os governos perderem essa chance no encontro de Copenhague, podem nunca mais ter uma oportunidade melhor.

"Esta é a nossa chance. Se a perdermos, pode levar anos até que consigamos uma melhor. Se é que isso vai acontecer", disse ela.

O primeiro-ministro dinamarquês disse que 110 chefes de Estado e de governo participarão dos últimos dias da conferência. A decisão do presidente Barack Obama de comparecer ao final do encontro, e não no meio do evento, foi considerada um sinal de que o acordo está mais próximo.

A conferência foi aberta com imagens de crianças de vários lugares do mundo pedindo aos delegados que as ajudem a crescer num mundo sem problemas de aquecimento. Ativistas também tentam chamar a atenção para suas campanhas contra o desmatamento e pelo uso de energias limpas e baixo crescimento das emissões de carbono.

Mohamad Shinaz, um ativista das Maldivas, entrou num tanque com quase 750 litros de água fria para ilustrar o que o aumento do nível dos mares está fazendo a seu país insular. "Eu quero que as pessoas saibam o que está acontecendo", disse Shinaz, com a água no peito. "Temos de parar o aquecimento global".

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Em jogo está um acordo que tem como objetivo fazer com que o mundo deixe de usar combustíveis fósseis e outros poluentes e passe a utilizar fontes mais limpas de energia, além da transferência de centenas de bilhões de dólares de países ricos para nações pobres, durante décadas, para ajudá-los a se adaptarem às mudanças climáticas.

Cientistas dizem que sem um acordo, a Terra vai enfrentar as consequências da elevação das temperaturas, o que vai resultar na extinção de espécies de plantas e animais, na inundação de cidades costeiras, eventos climáticos extremos, secas e a disseminação de doenças.

"As evidências são muito claras" de que o mundo precisa de ações para combater o aquecimento global, disse Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, pela sigla em inglês), o painel da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto.

Ele defendeu as pesquisas sobre o clima apesar da controvérsia sobre e-mails roubados de uma universidade britânica que, para os céticos, mostram que os cientistas conspiraram para esconder evidências que não se ajustam às suas teorias.

"O recente incidente de roubo de e-mails de cientistas na Universidade de East Anglia mostra que algumas pessoas podem chegar ao ponto realizar atos ilegais, talvez numa tentativa de desacreditar o IPCC", disse ele aos participantes.

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As negociações, que já duram dois anos, só recentemente mostraram sinais de avanço com os compromissos dos Estados Unidos, China e Índia de controlar as emissões de gases de efeito estufa.

A primeira semana da conferência será dedicada à melhoria do rascunho do acordo. Mas grandes decisões terão de esperar a chegada, na semana que vem, de ministros de Meio Ambiente e dos chefes de Estado nos últimos dias da conferência, que termina no dia 18 de dezembro.

"O tempo para declarações formais acabou. O tempo para falar novamente sobre posições conhecidas ficou no passado", disse o Yvo de Boer, chefe do Secretariado para Mudanças Climáticas da ONU. "Copenhague só será um sucesso se resultar em ações significativas e imediatas".

Dentre essas decisões está a proposta da criação de um fundo de US$ 10 bilhões por ano, pelos próximos três anos, para ajudar os países pobres a criarem estratégias para as mudanças climáticas. Depois desse prazo, centenas de bilhões de dólares serão necessários a cada ano para que o mundo estabeleça um novo caminho energético e se adapte às alterações climáticas.

"O acordo que convidamos os líderes a assinarem vai afetar todos os aspectos da sociedade, da mesma forma que acontece com as mudanças climáticas", disse o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Loekke Rasmussen.

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"Os negociadores não podem fazer isso sozinhos, nem os políticos No final, a responsabilidade recai sobre os cidadãos do mundo, que, afinal, vão sofrer as consequências fatais se falharmos em agir".

Um estudo divulgado pelo Programa de Meio Ambiente da ONU no domingo indica que as promessas de países industrializados e grandes nações em desenvolvimento de redução de emissão de gases de efeito estufa não chega ao nível que, segundo os cientistas, é necessário para evitar que a média das temperaturas suba mais do que 2 graus Celsius.

Conclusão da EPA

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) declarou nesta segunda-feira que os gases poluentes são um perigo à saúde pública e ao bem-estar, numa decisão que poderá levar a novas regulamentações das emissões.

A chamada "conclusão de perigo" anunciada pela administradora da EPA, Lisa Jackson, é necessária para que sejam feitos novos padrões de emissão para os automóveis, enquanto abre espaço para que grandes poluidores, como usinas termelétricas, refinarias de petróleo e indústrias químicas limitem a sua produção de dióxido de carbono e outros gases.

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"Essas longas e atrasadas conclusões marcam 2009 na história como o ano em que o governo americano começou a enfrentar o desafio da poluição dos gases e tomou a oportunidade para fazer uma reforma em direção à energia limpa", disse Jackson em comunicado.

Obama participará da cúpula em Copenhague em 18 de dezembro, no encerramento da reunião. Antes, Obama apenas faria uma rápida visita ao evento no dia 9. "Depois de conversar com outros líderes e do progresso obtido nas negociações, o presidente acredita que a contínua liderança americana pode ser mais produtiva por meio de sua participação no fim da cúpula de Copenhague em 18 de dezembro do que (uma passagem pela capital dinamarquesa) em 9 de dezembro", diz nota à imprensa distribuída mais cedo pela Casa Branca.

A conclusão da EPA contou com uma forte oposição de grupos econômicos e congressistas, os quais temem que as novas regulamentações colocarão uma carga sobre a economia. As conclusões preparam a regulamentação das emissões de gases poluentes através do Ato do Ar Puro, que alguns especialistas alertam será bem mais drástico que a legislação preparada pelo Congresso sobre a mudança climática.

A decisão que declara oficialmente o dióxido de carbono (CO2) um perigo coloca pressão renovada sobre os congressistas para que aprovem uma lei que corte as emissões.

Jackson disse que ela prefere que o Congresso tome a ação, mas afirmou também estar preparada para ir em frente na ausência de uma lei.

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