Um médico da cidade de Benghazi, a segunda maior da Líbia, disse que, no sábado, forças controladas pelo coronel Muamar Kadafi atiraram contra um grupo de 200 manifestantes opositores do governo que estavam enterrando os corpos de outras 35 pessoas mortas em um protesto realizado um dia antes. Pelo menos uma pessoa morreu e outras 14 ficaram feridas, 5 delas estão em estado grave.
O número de pessoas mortas como consequência de uma onda de protestos contra o governo já chegou a pelo menos 173, de acordo com o grupo Human Rights Watch (HRW), que cita fontes da área de saúde.
Segundo testemunhas, mercenários, soldados e simpatizantes de Kadafi atacaram os manifestantes no sábado com facas, rifles de assalto e armas mais pesadas. O médico disse que o seu hospital está sem suprimentos e por isso não pode tratar mais de 70 pessoas feridas no incidente.
"Eu estou chorando", disse o médico, que falou sob condição de anonimato por temer represálias. "Por que o mundo não está ouvindo?"
Benghazi está no centro das revoltas contra o regime de Muamar Kadafi, no poder há mais de 40 anos. As manifestações já duram seis dias, mesmo diante dos repetidos ataques, e alguns líderes exilados da oposição dizem que muitas cidades do leste da Líbia estão sob controle de forças que não são mais leais a Kadafi.
Mohammed Abdullah, líder exilado da Frente de Salvação da Líbia, disse que as tropas do governo em partes de Benghazi, Beyida e Tobruk romperam os laços com o comando em Tripoli. Ele acrescentou que protestos menores ocorreram na noite de sábado nos arredores de Tripoli, capital da Líbia, e que os manifestantes foram rapidamente dispersados por forças de segurança.
Repercussão
A secretária de Estado Hillary Clinton afirmou que o governo Obama apoia mas não pretende direcionar forças pró-democraria nos países do Norte da África ao Golfo Pérsico, onde ocorre uma onda de protestos nos últimos meses. Sem mencionar diretamente a Líbia, Clinton declarou que os Estados Unidos "não podem ditar os resultados", em entrevista à rede de TV ABC News.
"Não podemos dizer aos países o que devem fazer", declarou. Os Estados Unidos apenas recomendaram que os norte-americanos evitem viagens para a Líbia, embora os estrangeiros não pareçam ser alvo de violência até o momento.
A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Susan Rice, condenou a repressão brutal contra manifestantes de oposição na Líbia, dizendo que os líderes árabes que estão enfrentando protestos precisam liderar o caminho em vez de resistir às reformas. Ela comentou que a administração do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está "muito preocupada" com a violência nos relatos de ataques das forças de segurança da Líbia contra manifestantes pacíficos na cidade de Benghazi, no leste do país. "Condenamos essa violência. Nossa opinião é de que na Líbia e em toda a região, protestos pacíficos precisam ser respeitados", afirmou à rede de TV NBC.
A Líbia alertou a União Europeia (UE) de que vai "suspender a cooperação" na luta contra a imigração ilegal caso o bloco não pare de incitar protestos pró-democracia, de acordo com a presidente da UE. A chefe de política exterior da UE, Catherine Ashton, avisou ontem a Líbia que a violência do Estado contra os manifestantes deve "parar", depois da informação da morte de pelo menos 173 pessoas desde terça-feira.
A França se pronunciou ontem dizendo que a repressão contra os manifestantes é "inaceitável" e "totalmente desproporcional". O ministro de assuntos europeus da França, Laurent Wauquiez, afirmou que Paris está "extremamente preocupada" com os eventos ao longo da Líbia".
O ministro de assuntos europeus da Alemanha, Werner Hoyer, também se pronunciou demonstrando "indignação" com a repressão violenta na Líbia.
A Itália, por sua vez, alertou os cidadãos que evitem viajar para a Líbia em meio à onda de protestos e à repressão do Estado. Em nota publicada na internet, o ministério do exterior em Roma destacou "a seriedade da situação" na Líbia e disse que recomenda o cancelamento de viagens "não essenciais" para a região, inclusive para a cidade de Benghazi.
O ministério também pediu aos italianos que evitem manifestações e que se mantenham informados. Além de Itália e Estados Unidos, outros países, como Reino Unido, já divulgaram comunicado semelhante.