Um dia após a deserção do embaixador sírio em Bagdá, o Ministério do Exterior em Damasco anunciou que Nawaf Fares "foi liberado de suas funções" e não tem mais nenhum vínculo nem com a embaixada nem com o governo, informou a agência estatal síria Sana. Fares é o primeiro diplomata de alto escalão a abandonar o regime de Bashar al-Assad. Na ONU, países ocidentais vão tentar aprovar um texto que prevê duras sanções se o cessar-fogo continuar sendo desrespeitado.

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No comunicado desta quinta-feira, Damasco diz que o embaixador "fez afirmações para mídia que contradizem os deveres de defender o país" e acusa Fares de deixar a embaixada no Iraque sem consentimento prévio. Em seu anúncio de deserção, o diplomata fez um apelo para que todos os "membros honestos" do Ba'ath e das forças armadas abandonem o regime que, segundo Fares, se transformou em "um instrumento para matar o povo e suas aspirações de liberdade".

"Peço aos membros do Exército que se unam à revolução e que defendam o país e os cidadãos. Voltem suas armas contra os criminosos do regime", disse Fares, que estaria no Qatar, segundo a Reuters.

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Os Estados Unidos ainda não confirmaram a deserção de Fares, mas o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, lembrou que os últimos dias foram de importantes perdas para Assad. Na última quinta-feira, o amigo de longa data do ditador sírio e general Manaf Tlass fugiu para Paris depois de supostas divergências sobre a repressão contra os levantes antigovernistas, que se espalham pelo país há 16 meses.

Para especialistas, as pessoas estão perdendo a confiança no regime sírio. Mohamed Sermini, um membro do opositor Conselho Nacional Síria (CNS) descreveu a deserção do embaixador como o começo.

"É o começo de uma série de deserções no nível diplomático. Estamos falando com vários embaixadores", disse o rebelde.

Fares, um sunita que teria laços estreitos com a segurança síria, é o segundo diplomata de alto escalão a abandonar o regime Assad. O primeiro foi Bassam Imadi, que até dezembro foi embaixador na Suécia. Em entrevista à Al-Jazeera, Imadi - que agora participa do CNS - disse que a saída de Fares e Tlas do governo são um indício de que as pessoas estão começando a reparar que o regime Assad está chegando ao fim.

Ameaça de novas sanções

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EUA, Reino Unido, França e Alemanha propuseram nesta quinta-feira uma nova resolução que dá dez dias para que Assad implemente o plano de cessar-fogo do enviado especial Kofi Annan ou deverá ser submetido a novas duras sanções. O texto ainda precisa ser aprovado no Conselho de Segurança.

A resolução condena autoridades sírias pelo uso crescente de armas pesadas, incluindo tanques e helicópteros. Negociações para aprovar o texto - o que implica no apoio da Rússia - devem começar ainda nesta tarde na ONU.

Além de pedir o cessar-fogo imediato e pedir a retirada de tropas do governo das ruas, a resolução renova o mandato da missão de paz da ONU na Síria por mais 45 dias.

Annan afirma que Assad já discute transição

Dias depois de se encontrar com o presidente Bashar al-Assad, Annan contou que o ditador já discute a possibilidade de formar um governo de transição na Síria. Segundo o ex-secretário-geral da ONU, durante a conversa em Damasco, Assad propôs um interlocutor para o regime enquanto explora maneiras para formar um governo de transição com a oposição.

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Segundo cálculos dos ativistas, cerca de 17 mil pessoas morreram na ofensiva do regime de Assad contra a revolta popular que começou em março de 2011. Como o conflito se arrasta, a oposição cada vez mais armada tornou-se mais radical e violenta, o que complica o objetivo de uma solução pacífica ou uma transferência de poder.

Annan falou aos jornalistas em Genebra após uma teleconferência privada com o Conselho de Segurança da ONU em Nova York. O enviado não revelou quem poderia ser o interlocutor, mas adiantou que o presidente ofereceu um nome.

"Disse que queria saber sobre um indivíduo. Estamos nessa etapa", afirmou.