Como uma chama que não pode ser apagada, a questão do celibato sacerdotal reemergiu no centro de um debate sobre como evitar escândalos de abuso sexual infantil que agora assombram a Igreja Católica.
E, mais uma vez, o papa Bento XVI descartou a possibilidade de mudar a prática que data do século 12. Ele afirmou nesta sexta-feira que a castidade voluntária é um presente de Deus que não deveria ceder a "modas culturais passageiras".
"Homens e mulheres nos dias de hoje apenas querem que sejamos padres até o fim, e nada mais", disse ele a 700 participantes de uma conferência do Vaticano sobre o sacerdócio.
Os comentários dele foram feitos depois que vários prelados importantes de países de língua alemã sugeriram um elo entre o abuso e o voto de castidade dos padres e pediram por uma discussão mais aberta na Igreja sobre o celibato e a sexualidade dos padres.
Muitos comentaristas da mídia e alguns católicos liberais, como o teólogo suíço Hans Kueng, atribuíram os recentes escândalos na Alemanha, na Áustria, na Holanda e na Irlanda à proibição do casamento e pediram o fim dessa regra.
"Os tempos mudaram e a sociedade também, e a Igreja terá de considerar como esse tipo de vida pode ser mantido ou o que tem de mudar", disse o arcebispo de Salzburg, Alois Kothgasser, à televisão ORF na noite de quinta-feira.
Em um comunicado diocesano, o cardeal Christoph Schoenborn, de Viena, afirmou que a Igreja tinha de levantar questões difíceis sobre os escândalos de abuso. "Isso inclui a questão do celibato e do desenvolvimento pessoal" dos padres, escreveu ele.
Sexualidade não se desliga
Nenhum dos prelados sugeriu o fim do celibato. Schoenborn insistiu na sexta-feira que seu pedido para se discutir a regra não significava a sua anulação: "Se o celibato fosse a razão para o abuso sexual, não haveria nenhum abuso no restante da sociedade", afirmou ele.
O bispo Stefan Ackermann, ombudsman da Igreja alemã para casos de abuso, disse que o público no geral suspeitava que todos os padres fossem sexualmente anormais, quando esses escândalos surgiram. "Esse ponto de vista não corresponde à realidade", disse ele à televisão ZDF.
Pressionados pelos escândalos, porém, os prelados estão falando mais sobre a necessidade de ajudar os padres a lidarem com a sexualidade e explicar ao público um estilo de vida tão diferente da moralidade mais livre de hoje que muitas pessoas não podem compreendê-lo.
"Só porque uma pessoa coloca em prática sua sexualidade não significa que ela foi desligada. Não, eu preciso ver como reajo sexualmente e aprender a lidar com isso", disse o bispo auxiliar de Hamburgo, Hans-Jochen Jaschke, à Rádio Alemã na sexta-feira.
Kothgasser disse a seu entrevistador que algumas vezes desejou ter uma família, especialmente quando conhecia "pessoas bonitas", e chamou isso de um sentimento humano "muito natural".