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São os venezuelanos que votam, no próximo domingo (15), para decidir se o presidente tem ou não direito de tentar se reeleger quantas vezes quiser, mas também há interesses brasileiros envolvidos no referendo sobre a emenda constitucional proposta por Hugo Chávez. Se, por um lado, questiona-se a força da democracia na Venezuela e parlamentares brasileiros chegam a trocar farpas com o venezuelano, por outro a economia nacional se beneficiou da política chavista, aumentando suas exportações e diminuindo importações do vizinho ao norte.

"O Brasil é o país que mais se beneficiou do chavismo", resume o economista Pedro Silva Barros, que faz doutorado na USP sobre os governos de Chávez na Venezuela e de Evo Morales na Bolívia. Segundo ele, a Venezuela foi o segundo país com o qual o Brasil teve maior superávit, só perdendo para os Estados Unidos. "É muito provável que essa relação não tivesse um crescimento tão vertiginoso, se não fossem essas políticas econômicas chavistas."

De fato, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as exportações brasileiras destinadas à Venezuela cresceram sete vezes desde que Chávez se tornou presidente, passando de US$ 706 milhões em 1998 para US$ 5,1 bilhões em 2008. Ao mesmo tempo em que o Brasil passou a vender mais para o país de Chávez, também passou a comprar menos, melhorando sua balança comercial. De 1998 a 2008, as importações do vizinho ao norte caíram 28%, passando de US$ 755 milhões para US$ 538 milhões.

"Considerando que o Brasil parou de importar petróleo da Venezuela, por conta da produção interna, a balança comercial entre os dois países beneficiou muito o Brasil", diz Barros, justificando a mudança no saldo do intercâmbio comercial entre os dois países, que era negativo para o Brasil em 1998 e passou a ser positivo. No último ano antes de Chávez se tornar presidente, o Brasil teve um saldo negativo de US$ 49 milhões. No ano passado, o saldo positivo do Brasil foi de US$ 4,6 bilhões, com as exportações sendo quase dez vezes maiores que as importações.

A mudança no saldo se deu em grande parte pela auto-suficiência do Brasil em relação ao petróleo. Até 2001 (primeiro ano de que o dado é disponível no site do MDIC), os três principais produtos importados da Venezuela eram óleos brutos, querosenes e óleo diesel. Em 2008, o principal produto importado do país de Chávez foi é o carvão mineral.

Prioridade

O crescimento não se deu por acaso, segundo o superintendente da Câmara de Comércio Brasil - Venezuela, Luciano Wexell Severo. "O Brasil tem sido uma prioridade para o governo Chávez nas relações comerciais e nas parcerias de investimento conjunto", disse, em entrevista ao G1. "Os empresários brasileiros estão muito satisfeitos e festejam as relações do Brasil com a Venezuela. A relação comercial tem crescido bastante, chegando a recorde histórico de US$ 5,7 bilhões."

De 1998, ano em que Chávez foi eleito para a Presidência, até 2008, a participação da Venezuela nas exportações brasileiras quase dobrou, passando de 1,38% para 2,60%. Essa relação teve seu ponto mais baixo do período em 2003, quando o país que vai ter um referendo no domingo comprou apenas 0,83% dos produtos de exportação do Brasil. O melhor ano para a venda de produtos brasileiros no país foi 2007, quando a Venezuela teve 3,12% de participação nas exportações brasileiras.

Além de o Brasil deixar de comprar petróleo venezuelano, o perfil das exportações brasileiras também mudou. Em 2001, os principais produtos vendidos à Venezuela eram automóveis. No ano passado, mais de um bilhão de dólares de exportações ao país foram proveniente de alimentos, especialmente carne de frango que, sozinha, é equivalente a quase todo o comércio do Brasil com a Venezuela dez anos antes, US$ 508 milhões.

Política

Para Barros, que é professor na PUC-SP, as boas relações econômicas entre os dois países tornam estranho que políticos brasileiros sejam contra a entrada da Venezuela no Mercosul, ou assumam postura conflituosa em relação a Chávez. "A liberalização comercial com o país favoreceria muito o Brasil, que tem uma estrutura produtiva muito mais avançada", diz. "Além disso, se o discurso é de que a Venezuela não tem práticas democráticas, incorporá-la ao jogo institucional do Mercosul é a receita mais correta para enquadrá-la."

Severo ecoa o discurso e também defende um maior alinhamento político com base nas boas relações econômicas . "Do ponto de vista da autodeterminação e da soberania de um país, me parece irrelevante para os setores empresariais se o país tem ou não reeleições indefinidas. O Brasil tem muito comércio com a União Europeia, Espanha, Portugal, Inglaterra, onde há reeleição indefinida, além de países que têm reis. Isso é uma questão interna de cada país. O que os empresários têm que olhar é se há incentivos do governo para que as empresas brasileiras se estabeleçam, saber se existe segurança para os investimentos do país, saber se há estímulo para que se gere mais negócios entre os dois países", defendeu.

Para ele, se a emenda constitucional tiver capacidade de mudar de alguma forma a relação entre os dois países, a mudança seria para melhor. "Poderia não ter impacto nenhum, mas, se tiver vai ser positivo. O Brasil só tem a ganhar com a reforma."

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