Mais pobre das Américas, o Haiti é um dos países menos preparados do mundo para enfrentar um terremoto da magnitude que o atingiu no fim da tarde de terça-feira. A alta densidade populacional na capital, Porto Príncipe, vivem 3 milhões dos 9 milhões de habitantes somada à fragilidade das construções e a ineficiência do serviço público formam uma combinação imbatível para potencializar os efeitos do desastre.
O que torna a desgraça no Haiti ainda mais surpreendente é que o país vivia um momento raro de otimismo na história recente. No último ano, o Haiti vinha mostrando sinais de maior estabilidade política e recuperação da economia. Ao lado da Guiana, é o único país do Caribe que deve apresentar crescimento em 2009 (os números ainda não foram fechados, mas a estimativa é de alta de 2,4%). Beneficiadas por um acordo de comércio com os Estados Unidos, que em 2008 passou uma legislação desonerando produtos importados do Haiti, as exportações do país também cresceram 23% no ano passado. O país vem conseguindo diminuir a taxa de criminalidade a índices comparáveis aos dos vizinhos. Tudo isso depois de sofrer, em 2008, perdas de mais de US$ 1 bilhão, devido a três furacões que atingiram a ilha, deixaram centenas de mortos, destruíram estradas e prejudicaram a colheita daquele ano.
Complicação política
Para o representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, o terremoto vem complicar ainda mais a precária situação do país. A situação política e social deve contribuir para aumentar as dificuldades dos trabalhos de socorro e reconstrução. "O Haiti perde dez anos de recuperação política, econômica e social com esta tragédia", disse, por telefone, à Gazeta do Povo. A representação da OEA participará da coordenação dos trabalhos de socorro.
Seitenfus lamenta a baixa capacidade do governo local de prestar socorro com rapidez, além das condições de moradia da população. "Se os prédios do centro de Porto Príncipe desabaram, o impacto foi muito maior nas choupanas apoiadas em encostas ao redor da cidade, nas quais vive a maioria das pessoas", compara.
O representante da OEA espera uma explosão de insatisfação popular, que poderia levar a episódios de violência. "O país tem eleições marcadas para daqui a um mês, mas o agravamento dos problemas sociais vai forçar a revisão desse cronograma", prevê. No dia 28 de fevereiro, a população escolheria seus representantes na Câmara e no Senado.
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