Pesquisadores dos EUA desenvolveram uma forma mais segura de criar células-tronco a partir de células cutâneas comuns, dando um passo a mais na direção da chamada medicina regenerativa.
Em ratos, os cientistas usaram um vírus comum de resfriado para levar genes transformadores até células comuns, que então passaram a agir como células-tronco embrionárias.
A replicação dessa técnica em humanos poderia abrir as portas para uma forma mais segura de testar terapias celulares para tratar doenças como anemia das células ou o mal de Parkinson, segundo artigo publicado por Konrad Hochedlinger, do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola Médica de Harvard (Boston), na revista Science que circula nesta quinta-feira (25).
As células-tronco funcionam como "manuais de instrução" do organismo, dando origem a todos os órgãos e tecidos do corpo. As células-tronco embrionárias são consideradas mais eficazes porque podem se transformar em qualquer espécie de célula.
Mas obtê-las exige recorrer a um embrião ou à clonagem, o que desperta objeções éticas de muita gente. O governo dos EUA restringe verbas públicas para esse tipo de pesquisa.
Nos últimos meses, vários grupos de cientistas relataram a descoberta de diversos genes capazes de transformar células comuns em células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS, segundo a sigla em inglês). Tais células-tronco se parecem com as células embrionárias e se comportam como tais.
Para levar os genes necessários até as células, é preciso usar retrovírus, que integram seu próprio material genético às células infectadas. Isso pode ser perigoso, causando tumores e eventualmente outros efeitos colaterais.
Mas a equipe de Hochedlinger usou um vírus muito menos nocivo, chamado adenovírus, para levar os genes transformadores Oct4, Sox2, Klf4 e c-Myc para células da pele de ratos e também de células do fígado de fetos de rato. Em ambos os casos, foram obtidas células iPS.
"O legal dos adenovírus em contraste com os retrovírus é que eles entregam proteínas dentro das células, mas jamais irão integrar seu DNA ao das células", disse Hochedlinger por telefone.
Quando as células se dividem, elas diluem o vírus até que este desapareça, enquanto as alterações genéticas prosseguem, segundo ele.
Para testar as células eles produziram quimeras, uma mistura de dois animais diferentes. Injetaram as células recém-produzidas em embriões de ratos, e os filhotes resultantes tinham claros sinais das transformações genéticas esperadas.
"Isso resulta nesse padrão listrado de pêlo marrom, que vem das células iPS, e do pêlo preto que vem do tecido do embrião hospedeiro", explicou o cientista.
Até agora, esses ratos quiméricos não desenvolveram tumores. "Já estamos no processo de tentar fazer células iPS sem integração nas células humanas. É um pouco mais complicado, porque a reprogramação humana demora um pouco mais do que a reprogramação em ratos."
Se isso funcionar, algum dia talvez os médicos possam produzir tecidos sob medida, desenvolvidos em laboratórios para serem transplantados para pacientes com doenças degenerativas.
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