As imagens que correram o mundo no dia 26 de fevereiro podem não ter sido chocantes como as que exibiam reféns sendo executados, mas evidenciaram a violência praticada pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI). Orgulhosos, jihadistas derrubavam estátuas milenares e destruíam artefatos históricos com marretas e furadeiras no Museu de Mossul, um dos mais importantes do Iraque. O vídeo trouxe a público uma nova modalidade de terror adotada pelos extremistas, de ataques ao patrimônio histórico e cultural.
Uma primeira mostra dessa ofensiva foi dada em julho do ano passado, quando o EI destruiu com explosivos a tumba do profeta Jonas, uma mesquita histórica em Mossul, no norte do Iraque. A justificativa à época era de que o local não estava sendo usado para fins religiosos. A partir da divulgação do vídeo no Museu de Mossul teve início uma onda de devastação, que já consumiu sítios arqueológicos datados de séculos antes de Cristo, como Dur Sharrukin, Nimrud e Hatra, localizados no norte iraquiano.
Para Lídice Meyer Pinto Ribeiro, professora de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a conduta do EI não é novidade entre grupos que assumem o poder e vem desde a Antiguidade. “Toda vez que uma facção decide impor uma forma de conduta, como é o caso do Estado Islâmico, ela tenta destruir a história anterior. É uma forma de mostrar que o sucessor tem mais poder que os antecessores”, afirma.
Toda vez que uma facção decide impor uma forma de conduta, como é o caso do Estado Islâmico, ela tenta destruir a história anterior. É uma forma de mostrar que o sucessor tem mais poder que os antecessores.
Tal comportamento, contudo, está longe de justificar o prejuízo causado pela ação dos terroristas em um dos berços da civilização. Lídice lembra que o nascimento da humanidade começa na Mesopotâmia, região atacada pelos jihadistas. “Tudo que sabemos sobre nossas origens vem daquela região. Já perdemos muita coisa e, se perdermos mais, teremos menos condições de conhecer o passado e evitar situações como essa que estamos presenciando”, diz.
Em um artigo escrito para o site da rede norte-americana CNN, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, afirma que a destruição do patrimônio arqueológico pelo EI é um “assunto de segurança” e um “crime de guerra”. “A guerra contra a cultura é uma guerra contra pessoas. É parte da estratégia para esmagar o pensamento livre e dominar por meio da opressão”, avalia a diretora-geral.
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