Pré-candidata do governo à Presidência da República, a ministra Dilma Rousseff desembarca na Dinamarca neste domingo com uma crítica contundente aos Estados Unidos: a meta de redução de gases-estufa proclamada pela Casa Branca é "decepcionante".
Chefe da Casa Civil e da delegação brasileira à 15a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Copenhague, Dilma faz na ocasião sua primeira intervenção na agenda internacional. Levará ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a proposta de cortar cerca de 1 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente até 2020.
O Brasil foi, voluntariamente, uma das primeiras nações a anunciar metas de redução de emissões. Acredita, com isso, ter reavivado a conferência, presa à resistência de países ricos a adotar medidas mais robustas.
"Tomando como referência os níveis verificados em 1990 (...), a proposta dos Estados Unidos equivale a cortar meros 4 por cento de suas emissões. É decepcionante, para um país que responde por 29 por cento das emissões globais", afirmou a ministra em artigo publicado nesta manhã no jornal O Estado de S.Paulo.
O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou um corte em 17 por cento nas emissões, mas tendo como base o ano de 2005. A China, maior emissor global de dióxido de carbono, comprometeu-se a diminuir entre 40 e 45 por cento até 2020.
No geral, as metas até agora propagadas não acompanham o desafio de evitar um colapso climático no mundo.
A questão-chave está em diminuir o desmatamento e definir formas de financiamento por parte dos países ricos para que nações em desenvolvimento --menores emissores mundiais-- possam alavancar ações de redução.
Segundo Dilma, é importante ter números na mesa, mas será igualmente "decepcionante" se a União Europeia fixar objetivos abaixo das expectativas alimentadas nos últimos anos. O Brasil considera insuficiente, por exemplo, qualquer iniciativa em torno de 20 por cento ou abaixo desse patamar.
"Será totalmente frustrante se Copenhague der respostas financeiramente limitadas e institucionalmente incertas", afirmou.
A crise financeira internacional, disse a ministra, não pode ser obstáculo a essa necessária estrutura de financiamento.
"Circunstâncias da economia mundial não justificam o abandono do planejamento multilateral adequado, de longo prazo e com respeito à soberania dos países", acrescentou.
Dilma Rousseff --ex-ministra de Minas e Energia-- vai à conferência mostrar o histórico e o discurso de matriz energética mais limpa do mundo. De acordo com seus próprios dados, usinas hidrelétricas, biocombustíveis e outras fontes renováveis respondem por 45,9 por cento de toda energia consumida no país, marca bem acima da média mundial.
"Nossa matriz energética limpa não caiu do céu...Nos últimos 30 anos, a utilização de etanol combustível, anidro ou hidratado, evitou a emissão de mais de 850 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera."
"Incentivamos a produção dos automóveis com motores flex, que já são 94 por cento dos carros vendidos hoje no país", argumentou.
O programa de ações voluntárias anunciado pelo Brasil tem por meta diminuir emissões entre 36,1 por cento e 38,9 por cento até 2020. Para isso, se compromete, entre outras medidas, a reduzir em 80 por cento o desmatamento na Amazônia e em 40 por cento no cerrado -- corte de 669 milhões de CO2 equivalente, segundo dados do artigo.
"Brasil vai a Copenhague como o país que já promoveu a maior redução em suas emissões de CO2...Não podemos nos conformar com números mesquinhos, que não levem em conta o estoque acumulado no tempo nem os índices per capita de emissão de CO2 de cada país."
A intervenção de Dilma sobre a agenda verde é vista internamente como forma de conquistar credenciais ambientais para as eleições do ano que vem.
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