Juliano Cortinhas, coordenador do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.

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O anúncio da manutenção da data final para a retirada das tropas estadunidenses do Iraque vem recheado de inconsistências. Em primeiro lugar, o processo se dá em um momento em que nenhuma alteração na condição política do país pode ser percebida e, portanto, não se pode afirmar que os Estados Unidos estejam mais seguros, mesmo após investirem uma imensa quantia de dinheiro em longos sete anos de confronto. Além disso, é importante ressaltar que não estamos diante de um processo de retirada completa do Iraque, mas de uma diminuição do número de soldados no país, já que 50 mil combatentes serão mantidos. Por fim, a retirada se dá, primordialmente, por razões de política interna, e não por motivações político-estratégicas delimitadas pelo governo estadunidense em relação ao sistema internacional.

As duas primeiras colocações estão interligadas. Os EUA não conseguiram realizar progressos na condição político-econômica do Iraque e não há qualquer garantia de que a frágil estabilidade do país possa ser mantida pelas autoridades locais. Existe, assim, a necessidade da presença de forças externas no Iraque para que a emergência de um governo autoritário, ainda mais violento que o de Saddam Hussein, possa assumir o controle e promover uma desestabilização de toda a região. Essa lógica torna a retirada total das tropas estadunidenses, mesmo no longo prazo, improvável.

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A motivação da decisão não está embasada na situação em que se encontra o Iraque, mas sua explicação deve ser buscada no ambiente político interno dos EUA. Em novembro, será realizada a próxima eleição ao Congresso daquele país. Com uma popularidade decadente e com o aumento das críticas de vários grupos políticos locais e, principalmente, da parte mais conservadora da opinião pública, Obama pretende, com a medida, ganhar fôlego político para que possa minimizar possíveis perdas no Legislativo. Uma ampla vitória dos Republicanos no Congresso poderia significar um travamento quase completo de sua administração, o que dificultaria suas chances de reeleição em 2012.

Vê-se, portanto, que, independentemente da correção da decisão, ela está fundada em razões incorretas e não significa uma mudança na estratégia de inserção internacional dos EUA, mas sim um sinal de que lá, como aqui no Brasil, questões relacionadas a disputas políticas podem ser mais importantes que análises racionais sobre os interesses de um país.