“Acreditem ou não, estou arrependido”, disse o candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, na noite desta quinta-feira (18). Em discurso que rompeu com sua resistência a admitir erros, o empresário admitiu em comício na Carolina do Norte que “às vezes, no calor do debate e falando sobre uma miríade de temas, você não escolhe as palavras certas ou diz a coisa errada. Já fiz isso”.
A mudança de tom marca seu primeiro ato político após a contratação de Stephen Bannon, presidente licenciado do site conservador Breitbart News, como diretor-executivo de sua campanha.
Especialistas à esquerda e à direita do espectro político acreditavam que a chegada de Bannon, tido como um ator agressivo na arena política, seria um sinal de que Trump acirraria a verve polemista de sua campanha.
O que se viu na Carolina do Norte, contudo, foi um gesto atípico do empresário. “Arrependo-me sobretudo se causei dor pessoal a alguém”, disse, sem citar nenhuma das controvérsias em que se envolveu.
Nas últimas semanas, ele escorregou nas pesquisas, e sua adversária democrata, Hillary Clinton, consolidou uma vantagem no quadro eleitoral que especialistas acham difícil reverter a menos de três meses das eleições.
Na média de sondagens nacionais feita pelo site Real Clear Politics, ela tem 47% das intenções de voto, e ele, 41,2%. A queda de Trump, que chegou a superar Hillary nas pesquisas por uns dias, deu-se após uma sequência de polêmicas.
Polêmicas e “desculpa”
Brigar com a família de um muçulmano que lutou pelos EUA e foi morto no Iraque, incentivar defensores de armas a tomar uma atitude contra Hillary, expulsar a mãe com um bebê que chorava de um comício; a lista é longa.
A dificuldade que Trump tem em dizer “desculpa” era algo que ele próprio reconhecia. Em março, em sabatina da CNN, o apresentador Anderson Cooper perguntou se ele lembrava da última vez em que usou a palavra.
Depois de uma pausa, o bilionário afirmou: “Me desculpei com minha mãe anos atrás, por falar palavrão”. Em 2015, disse ao apresentador de rádio Don Imus: “Gosto de não me arrepender de nada”.
Nesta quinta, Trump aliou a postura mais humilde com a imagem do candidato que fala a verdade, em oposição à “mentirosa” Hillary (a democrata é vista como desonesta por quase 70% do eleitorado).
“Uma coisa eu prometo: sempre direi a verdade. [...] Nunca direi algo em que não acredito a vocês.” “Enquanto às vezes posso ser muito honesto”, disse, “Hillary é o exato oposto: ela nunca diz a verdade. Uma mentira atrás da outra, e piora a cada dia”.
Ele usou como símbolo de desonestidade do atual governo uma confissão feita nesta quarta pelo Departamento de Estado do país, sobre ter liberado US$ 400 milhões que os EUA deviam há décadas para o Irã como forma de influenciar a libertação de quatro reféns americanos.
No começo do mês, o presidente Barack Obama negou que a transação fosse um resgate, o que feriria com a política nacional de não negociar sequestros, para não incentivar inimigos a aderir à tática contra os EUA. “Não houve nenhum acordo abominável”, disse na ocasião.
Discurso
O discurso de Trump foi absorvido por aliados e rivais políticos como um dos melhores que já deu na campanha, uma fala menos belicosa que republicanos aguardavam faz tempo. Seus partidários cobravam que ele gastasse menos tempo em polêmicas colaterais e mais atacando Hillary.
Alguns pediram cautela para ver se ele se manterá na linha ou seguirá um roteiro comum em sua trajetória política de 14 meses: fazer um discurso mais sério depois de se afundar numa controvérsia, mas logo depois reincidir e protagonizar polêmica ainda maior.
Foi assim, por exemplo, quando fez um discurso sobre economia na semana passada, elogiada por conservadores. Em vez de se aproveitar do momento e se ater à mensagem, ele gastou os dias seguintes sustentando a ideia de que Obama e Hillary eram cofundadores da facção terrorista Estado Islâmico, “literalmente”.
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