Os dissidentes e ativistas cubanos estarão de fora, mas os três soldados que arriaram a bandeira americana em Cuba, em 1961, voltarão hoje à ilha para hasteá-la novamente. Liderada por John Kerry, na primeira visita de um secretário de Estado norte-americano a Havana desde 1945, a cerimônia de reabertura oficial da embaixada dos Estados Unidos ocorrerá em meio a protestos contra os irmãos Castro e alfinetadas dos próprios líderes cubanos a Washington.
A ausência dos oposicionistas se dará por uma exigência do governo de Cuba, que vem apertando o cerco e aumentando as detenções nos últimos meses. No domingo, após a tradicional marcha das Damas de Branco (um tradicional grupo de opositores) em Havana, pelo menos 90 ativistas foram presos. “Fomos convidados para uma recepção posterior, mais discreta, mas não vamos. Estamos trabalhando muito nos últimos dias, com novas denúncias de detenções”, desconversou Berta Soler, líder dos Damas de Branco. “O tema de direitos humanos deveria ser essencial e, particularmente, acredito que o presidente [Barack] Obama deveria interromper as negociações até que ele fosse resolvido”, disse.
Kerry, por sua vez, alega que os dissidentes não foram convocados por falta de espaço, e porque trata-se de um encontro “governo a governo”. Mas ele lembra que haverá uma segunda reunião. “Encontrarei os dissidentes. Terei a oportunidade de sentar à mesa com eles”, disse.
A estratégia norte-americana, de se afastar da dissidência, pode representar uma vontade de dialogar mais facilmente com o governo cubano, já que mesmo com a reaproximação não cessaram as críticas. Ontem, Fidel Castro publicou um texto no qual diz que os EUA devem “milhões” a Havana. E temas espinhosos, como proteção dos direitos humanos e o embargo econômico (que continua apesar de retomados os laços diplomáticos, estão na pauta da visita de um dia de Kerry.
Na agenda, o secretário se encontrará, ainda, com o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, para avançar em temas como a luta antinarcóticos, segurança e meio ambiente -- autoridades americanas descartaram um encontro com o presidente Raúl Castro ou com seu irmão, Fidel.
Apesar do clima desconfortável na ilha, nos EUA a aproximação diplomática parece estar cada vez mais popular. Segundo uma pesquisa do Pew Research Institute, 72% dos americanos apoiavam o fim das sanções em julho, acima do resultado de 66% registrado em janeiro.
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