Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) deu explicações nesta quinta-feira (29) aos integrantes da comissão sobre sua participação na chegada do senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil. Responsável por transportar Molina de Corumbá (MS) até Brasília, Ferraço defendeu a operação ao afirmar que a vida do parlamentar "estava em jogo" e que o Itamaraty havia tomado a decisão política de não pressionar a Bolívia para autorizar sua saída do país.
"Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas, tornando-se apenas um item a mais da nossa agenda bilateral, sempre sujeita, durante mais de um ano, a ceder preferência para outras questões", atacou Ferraço.
O senador disse que o Itamaraty agiu com "indiferença" no caso, que resultaria na morte de Molina se ele não fosse retirado da Embaixada do Brasil em La Paz onde estava asilado há 453 dias.
"A outra alternativa de desfecho para a grave situação seria a sua morte, através de um enfarte ou mesmo de um derrame ou, quem sabe, até mesmo de um suicídio. A decisão de evacuá-lo da chancelaria e da Bolívia, ainda que sem o solicitado salvo-conduto, significou salvar uma vida humana."
Ferraço saiu em defesa de Eduardo Saboia, encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em La Paz, responsável pela operação de fuga de Molina. "Não seria justo, a meu juízo, não seria razoável que o referido diplomata tivesse sua carreira prejudicada por ter tomado, no calor dos acontecimentos, motivado por justificadas preocupações humanitárias, as corajosas decisões que precisou adotar na semana passada."
Molina deixou a Bolívia na sexta-feira em um carro da embaixada brasileira, acompanhado de Saboia. Eles percorreram 1.600 quilômetros até chegarem em território brasileiro. A operação irritou a presidente Dilma Rousseff, que demitiu o ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores), uma vez que o governo da Bolívia não havia concedido salvo-conduto para o senador deixar o país.
Na opinião de Ferraço, o governo brasileiro não deve recuar na concessão de asilo político a Molina. "Alguns dias antes, vizinhos do Brasil como a Bolívia e a Venezuela haviam cogitado de oferecer asilo ao cidadão norte-americano, Edward Snowden. Por que razão o senador Roger Pinto mereceria tratamento diferenciado?", questionou.
O presidente da comissão também defendeu Marcel Biato, embaixador do Brasil na Bolívia, que teve sua indicação para assumir a Embaixada do Brasil em Estocolmo (Suécia) retirada pela presidente Dilma Rouseff em consequência da operação. "Nós teremos a oportunidade de trazer a esta comissão, para uma avaliação de profundidade, não apenas o diplomata Eduardo Saboia, mas de igual forma o embaixador Marcel Biato. Esse assunto não se encerra aqui. Precisamos revisar nossas relações com a Bolívia", afirmou.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou o fato de Ferraço não ter comunicado os integrantes da comissão sobre o resgate de Molina. Também criticou a "falta de hierarquia" conduzida por Saboia no caso, já que diplomata diz ter agido sozinho, sem o aval da cúpula do Itamaraty.
"Obviamente, como presidente da comissão, se fosse possível, era melhor ter informado a nós. Não vou dizer consultar nem fazer um debate aqui, porque era impossível, era uma operação clandestina. Quando a gente analisa o serviço diplomático brasileiro, aí vem uma grande preocupação. O diplomata representa não o coração dele, representa 200 milhões de pessoas", afirmou.
Em defesa de Ferraço, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) disse que a operação foi correta porque preservou uma vida humana. A senadora também considera que Molina não pode ser "desqualificado" por ações cometidas na Bolívia. "Assim como o governo brasileiro concedeu um asilo a Cesare Battisti, que notoriamente teve envolvimento, foi julgado e condenado pela Justiça, entrou ilegalmente no país, e não é o caso do senador Molina, estamos avaliando exatamente duas formas de pensar: um pode e o outro não pode. Para sermos coerentes, temos que usar a mesma medida no julgamento de casos que tratam de asilo político."
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