Universitários pró-Capriles: luta pela liberdade| Foto: Celio Martins/ Gazeta do Povo

Entrevista

"Concessões de rádio e tevê foram para aliados do governo"

Mariana Bacalao, analista e professora de Comunicação Social da Universidade Central da Venezuela.

A analista Maria Bacalao recebeu a Gazeta do Povo em pleno processo de mudança. Mudança de casa, que se diga. "Mas espero mudança também no governo do país", brinca, ao apontar para dezenas de caixas espalhadas pelo apartamento. Ela faz sucesso na mídia privada venezuelana. Jovem e professora de Comunicação Social da Universidade Central da Venezuela, Mariana não esconde sua simpatia pelo opositor Henrique Capriles.

O governo inibe a liberdade de expressão?

A realidade é que muitos veículos de comunicação foram fechados. Um dos casos mais conhecidos é o da RCTV, que tinha uma programação para todo o país. Há também preocupação com retaliação. A maioria dos meios de comunicação está nas mãos do Estado.

Mas o governo diz que estimulou a criação de outros canais e aumentou o número de concessões. Esses dados não são reais?

O governo usa eufemismo quando fala em concessões. Esses canais de rádio e tevê foram concedidos a pessoas e grupos aliados do chavismo. Eles estão a serviço dos interesses do governo. Os canais estatais são máquinas de propaganda de Chávez. O canal público TVes, que substituiu a RCTV, é claramente partidário. A Televisão Venezuelana, por exemplo, colocou Chávez no ar 147 horas e 23 minutos desde o início da campanha até o último dia 28. Para Henrique Capriles foram 26 horas e 15 minutos.

Por que muitos jornalistas venezuelanos são partidários?

Isso não é uma coisa que surgiu com Chávez. Existia antes, mas era algo contido. Hoje muitos jornalistas são claramente partidários, não há imparcialidade.

Em outros setores, onde você vê mais problemas?

Insegurança, desemprego, déficit de moradias. Com tantos problemas aqui, o governo investe em outros países. Quando ajuda Cuba, Bolívia e outros, o governo está tirando dinheiro dos venezuelanos e deixando de investir no país.

E o que esperar da eleição?

Quem ganhar deve fazer um governo de diálogo. O terreno social está fraturado.

É preciso recuperar o sentido de unidade da nação. A esperança que deu a vitória a Chávez no passado, de inclusão social, não foi em frente por incapacidade, corrupção, impossibilidade de incluir a classe média.

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Jovens a favor do governo elogiam a educação
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A decisão de deixar o país em busca de melhores oportunidades no exterior, tomada por um grande número de jovens dos países latino-americanos, tem se acentuado na Venezuela. Muitos decidem arriscar a sorte longe da pátria não apenas por desesperança, mas por não concordarem com os rumos que o país tomou nos últimos anos.

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Um estudo do professor­­ Iván de la Vega, do Depar­­tamento de Ciências Eco­­nômicas e Administrativas da Universidade Simón Bolívar, mostra que o número de venezuelano vivendo no exterior subiu de pouco menos de 50 mil em 1990 para cerca de 800 mil em 2010.

Mas há o reverso da moeda, dos jovens que se aliaram ao projeto socialista, aderiram às chamadas missões e conquistaram vagas nas novas universidades criadas pelo governo. Esses vislumbram um futuro diferente daqueles que não querem se aliar ao poder.

"Os jovens que aderem ao­­ projeto do governo têm de pagar um preço muito alto, não há opção de escolha", diz a analista e professora da Universidade Central da Venezuela Mariana Bacalao.

Nas fileiras jovens se constata visões bem divergentes do que querem do país. "Nós estamos aquí na rua protestando por liberdade, por emprego, por mais investimentos em educação e não em armas. Meus colegas querem ir embora porque eles estão com medo da violência e não têm perspectivas", diz a estudante de Direito da USB Glória Briceño, 18 anos, durante uma manifestação a favor do candidato da oposição à Presidência da República Henrique Capriles, no centro de Caracas. A queixa é reforçada pela colega de classe, Paula Sanchez, também de 18 anos.

Não muito longe dali, a­­ apenas três estações do me­­trô, em um campus da Uni­­versidade Bolivariana (UBV), é fácil encontrar jovens com opiniões totalmente contrá­­rias à de Paula e Glória. "To­­do esse governo tem sido bom­­ para juventude. Foram criadas novas universidades,­­ milhares de oportunidades para estudar, as missões, que­­ dão oportunidade de tra­­balho", defende Aisbel Ace­­vedo, 17 anos, estudante de Comunicação Social da UBV.

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Violência

Estatísticas estampadas nos jornais pintam um quadro nada colorido da juventude venezuelana. De acordo com a ONG Paz Activa, 87% dos delitos violentos no país são cometidos por menores de 25 anos. O consumo de drogas entre adolescentes e estudantes aumentou 30% em 10 anos, segundo o Instituto Pedagógico de Caracas.

Com 40 anos de idade e uma aparência mista de galã de tevê, atleta e cantor de baladas românticas, o opositor Capriles arrasta multidões de jovens. "Quero jovens livres, independentes. Não quero fuzis, quero universidades", declarou no início da semana. No seu plano de governo há citações como "educação para todos" e a criação de 3 milhões de postos de trabalho, especialmente para quem busca o primeiro emprego.

O governo diz que a oposição não tem propostas concretas para a juventude. E apresenta a sua conta: o número de universitários no país mais que duplicou entre 2000 e 2008, passando de 835 mil para 2 milhões de estudantes de graduação. O grande salto se deu no ensino público, que representava 28,8% do total de matrículas há 12 anos e agora chegou a 72%.