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Lula e Fidel: amigos próximos por mais de três décadas,. | Roberto Stuckert Filho/AFP
Lula e Fidel: amigos próximos por mais de três décadas,.| Foto: Roberto Stuckert Filho/AFP

Depois da revolução de 1959, Fidel Castro se tornou um tema sobre o qual todo presidente brasileiro precisava opinar – a maior parte deles teve opiniões fortes e radicais sobre o líder cubano.

A relação entre o regime de Fidel Castro e o governo brasileiro começou bem. Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil no momento da derrubada de Fulgêncio Batista, reconheceu a legitimidade do novo governo cubano e convidou Fidel para visitar o país.

Ainda em 1959, primeiro ano de poder dos revolucionários, Fidel pôs os pés em Brasília, a capital que estava sendo construída por JK. Voltaria ao país outras vezes, mas só bem mais tarde, depois do fim da ditadura militar – período em que esteve proscrito das relações internacionais brasileiras.

Sucessor de JK, Jânio Quadros viveu uma polêmica relacionada a Fidel antes mesmo de vencer a eleição presidencial. Como candidato, aceitou um convite para visitar Cuba e conhecer a revolução de perto.

Embora fosse ligado à direita, Jânio aceitou o convite. Houve medo entre seus apoiadores de que isso fizesse com que o comunismo “contaminasse” sua campanha. Jânio defendeu sua ida e classificou Fidel como “tímido, mas perfeito líder que exerce fascínio sobre o povo”.

Já no governo, Jânio concedeu uma homenagem ao outro grande símbolo da revolução cubana, o guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara – o que novamente causou suspeitas de que Jânio tivesse simpatias pelo regime que levavam a direita a se irritar com ele.

Na gestão de João Goulart, o Brasil se absteve em uma das medidas diplomáticas mais relevantes tomadas pela comunidade internacional contra Cuba. Na votação que decidiu pela expulsão da ilha da Organização dos Estados Americanos, a delegação brasileira decidiu não votar nem contra, nem a favor.

A situação mudou radicalmente em 1964. Com o golpe de Estado no Brasil, houve um rompimento das relações entre os dois países, que só seriam retomadas em 1986, depois da volta do Brasil à democracia.

Durante a ditadura, o Brasil se alinhou aos esforços dos Estados Unidos para que a revolução cubana fosse derrotada. Há registros de que o presidente Emílio Garrastazu Médici, durante visita ao presidente americano Richard Nixon, se ofereceu para ajudar a derrubar o governo de Fidel.

Em certo sentido, a existência do governo de esquerda em Cuba foi fundamental para que os Estados Unidos tenham apoiado a ditadura militar no Brasil. No auge da Guerra Fria, a compreensão do governo dos EUA era de que não seria permissível ter um país do tamanho do Brasil se tornando uma “segunda Cuba” no continente.

Nixon afirmou, durante a presidência, numa frase célebre, que acreditava que para onde o Brasil fosse, o restante da América do Sul seguiria. Por isso, os EUA não apenas apoiaram o golpe contra o governo de João Goulart como incentivaram o país durante a permanência do regime de exceção.

Em 1986, após a retomada da democracia no Brasil, o país retomou relações com Cuba. Isso permitiu a próxima visita de Fidel ao país, em 1990, para a posse do primeiro presidente eleito após 1964, Fernando Collor.

Fidel voltaria ainda para as posses de Fernando Henrique Cardoso e de Lula. No caso de Lula, a relação não era apenas de cordialidade, nem se tratava apenas de uma formalidade. Os dois foram amigos próximos.

Lula conheceu Fidel em 1980, na Nicarágua, durante a comemoração do primeiro aniversário da revolução sandinista. Desde então, Lula sempre admirou o líder cubano, com quem manteve proximidade.

Não foi à toa que neste sábado, ao saber da morte de Fidel, o ex-presidente brasileiro chamou-o de “maior de todos os latino-americanos”. Sua geração aprendeu a ver em Fidel o símbolo do nacionalismo e da luta contra as políticas americanas no continente, vistas como opressivas e imperialistas.

Durante o período de luta à ditadura militar, a existência de uma pequena ilha que tinha sido capaz de desafiar os EUA transformou Fidel e Che em heróis de uma geração de esquerdistas. Sindicalistas, como Lula, e guerrilheiros, como Dilma Rousseff, tendiam a ver neles seu ideal de governo.

Em sua nota falando da morte de Fidel, Lula disse ver nele uma espécie de “irmão mais velho”. Também foi o último presidente brasileiro a conviver com Fidel como chefe de Estado, antes de ele abandonar o posto em 2008, fechando um ciclo de quase 50 anos de poder.

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