O mundo avançou pouco na redução da fome desde 1990, mas o Brasil é uma das exceções nesse quadro, segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira, que cita 29 países com níveis alarmantes de desnutrição, principalmente na África e no Sul da Ásia.
Esses países estão mais vulneráveis ao impacto dos preços elevados dos alimentos e da energia e também à recessão econômica - fatores que o Instituto Internacional de Pesquisas em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês) diz que ainda não foram refletidos nos dados usados para compilar o seu índice anual da fome.
"Após décadas de progresso lento no combate à fome global, o número de pessoas desnutridas agora está subindo como resultado dos fatos recentes", disse o relatório publicado pela IFPRI, pela ONG alemã Welthungerhilfe e pela entidade irlandesa Concern Worldwide.
"A atual situação da crise alimentar, da contração financeira e da recessão global afetou ainda mais a segurança alimentar e a subsistência dos pobres", disse o relatório.
Esses grupos usam o relatório e um ranking de países para despertar a conscientização sobre como as políticas governamentais afetam a fome. Edições anteriores foram estudadas atentamente pelos governos, segundo Joachim Von Braun, diretor-geral da IFPRI.
"Isso toca os nervos dos agentes políticos e das organizações da sociedade civil, e essa é a intenção", disse Von Braun.
Países ricos, como os Estados Unidos, prometem ampliar nos próximos três anos suas verbas para a ajuda a pequenos agricultores de países pobres, como forma de tentar reduzir a fome.
"Acho que todas as palavras corretas foram ditas. Agora é uma questão de cumpri-las", disse Tom Arnold, executivo-chefe da Concern Worldwide.
Usando dados até 2007, o índice aponta três importantes indicadores da fome: a proporção das pessoas desnutridas, a prevalência da desnutrição infantil e os índices de mortalidade infantil.
Desde 1990, o índice global melhorou de 20,0 para 15,2. Um índice inferior a 5 é considerado baixo, enquanto a partir de 20 ele é "alarmante", e acima de 30 é "extremamente alarmante."
O índice para a África Subsaariana é de 22,1, e no Sul da Ásia é 23,0, principalmente por causa da desnutrição infantil disseminada, segundo o relatório. Em Bangladesh e na Índia, mais de 40 por cento das crianças são desnutridas, segundo o IFPRI.
Desde 1990, alguns países melhoraram dramaticamente os seus índices, disse o relatório - é o caso de Vietnã, Brasil, Arábia Saudita e México.
Mas, em 13 países, os níveis de fome aumentaram, disse o relatório, notando que o pior índice é o da República Democrática do Congo, com 39,1.
O relatório concluiu ainda que países onde as mulheres têm mais acesso a educação, direitos políticos e participação na economia também têm níveis mais baixos de fome.
"Se as mulheres não forem incluídas (nas estratégias para melhorar a segurança alimentar) dificilmente haverá qualquer chance de fazer progressos significativos no índice global da fome", disse Von Braun.
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