Forças leais ao líder líbio, Muamar Kadafi, atacaram nesta quarta-feira uma importante cidade no leste da Líbia, levando os rebeldes a fazer um alerta de que ajuda militar estrangeira pode ser necessária para "colocar o prego no caixão" dele, que está no poder desde 1969.
Em um pronunciamento transmitido pela TV local, Kadafi disse nesta quarta-feira que milhares de líbios morrerão se os Estados Unidos ou outra potência internacional entrarem na Líbia, e garantiu estar disposto a negociar mudanças constitucionais sem violência.
"Eles querem que a gente se torne escravo outra vez como éramos escravos dos italianos?", disse Kadafi, referindo-se à colonização italiana do país, situado no norte da África.
"Nunca vamos aceitar isso. Entraremos numa guerra sangrenta e milhares e milhares de líbios morrerão se os Estados Unidos ou a Otan entrarem."
As tropas do governo chegaram a capturar Marsa El Brega, um terminal de exportação de petróleo, mas depois foram rechaçadas pelas forças de oposição que há cerca de uma semana controlam a cidade, 800 quilômetros a leste de Trípoli, segundo representantes dos rebeldes.
O ataque parece ser a operação militar mais significativa por parte de Kadafi desde o início da revolta, há duas semanas.
Ajuda externa
Os rebeldes disseram que pretendem pedir ajuda militar estrangeira, um tema sensível para os países ocidentais, desconfortavelmente cientes de que o Iraque sofreu anos de derramamento de sangue e violência da Al-Qaeda depois da invasão dos EUA e seus aliados, em 2003, para derrubar o ditador Saddam Hussein.
Não houve confirmação independente dos relatos sobre o conflito em Marsa El Brega, que passou ao controle dos rebeldes em 24 de fevereiro.
"Nós provavelmente iremos pedir ajuda externa, possivelmente bombardeios aéreos em locais estratégicos, para colocar o prego no caixão dele (Kadafi)", disse à Reuters Mustafa Gheriani, porta-voz da Coalizão Rebelde 17 de Fevereiro.
"Eles tentaram tomar Brega esta manhã, mas fracassaram. Ela está novamente nas mãos dos revolucionários. Ele (Kadafi) está tentando criar todo tipo de guerra psicológica para manter essas cidades sob tensão", disse ele.
Há temores de que a revolta, a mais sangrenta da atual onda de rebeliões no Oriente Médio e Norte da África, esteja causando uma grave crise humanitária, especialmente na fronteira com a Tunísia, onde milhares de trabalhadores estrangeiros tentam fugir.
Por toda a Líbia, vários líderes tribais, autoridades civis e comandantes militares debandaram para o lado dos rebeldes e começam a se organizar. O poder de Kadafi praticamente se restringe a Trípoli.
O capitão rebelde Faris Zwei afirmou à Reuters que há mais de 10 mil voluntários em Ajdabiyah, localidade próxima a Marsa El Brega. "Estamos reorganizando o Exército, que foi quase todo destruído por Kadafi e sua gangue antes de partirem", disse ele. "Estamos reformando, até onde podemos, o Exército da juventude que participou da revolução."
Reiterando a pressão dos EUA sobre o ditador, tradicional inimigo do Ocidente, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, disse na terça-feira à rede ABC: "Vamos manter a pressão sobre Gaddafi até que ele saia e permita que o povo da Líbia se expresse livremente e determine seu próprio futuro."
Receios árabes
Ministros de Relações Exteriores da Liga Árabe se reunirão nesta quarta-feira no Cairo para discutir o esboço de uma resolução rejeitando a intervenção militar estrangeira na Líbia, informou o vice-secretário-geral da liga, embaixador Ben Helli.
A mobilização militar dos EUA nos arredores da Líbia é amplamente vista como uma demonstração simbólica de força, uma vez que nem os Estados Unidos nem seus aliados da Otan se mostram dispostos a uma intervenção militar direta.
"Estamos examinando várias opções e contingências. Nenhuma decisão foi tomada", disse o secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates, lembrando que a ONU não autorizou o uso da força na Líbia.
A Casa Branca afirmou que os navios estão sendo reposicionados numa preparação para possíveis esforços humanitários, mas destacou que "nenhuma opção foi retirada da mesa".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, voltou a defender a adoção de uma zona de exclusão aérea para impedir bombardeios do governo líbio contra os rebeldes. Cameron considerou inaceitável que "o coronel possa assassinar seu próprio povo com aviões e helicópteros."
Num tom mais cauteloso, o chanceler francês, Alain Juppé, disse que nenhuma intervenção militar deve acontecer sem um claro mandato da ONU.
A Itália anunciou o envio de uma missão humanitária para a Tunísia, a fim de fornecer alimentos e ajuda médica para mais de 10 mil pessoas que fugiram da Líbia para o país vizinho.Estrangeiros em fuga
O general James Mattis, chefe do Comando Central dos EUA, disse ao Senado de seu país que a imposição da zona de exclusão aérea seria uma operação "desafiadora", que necessariamente resultaria em um ataque.
"Você precisa eliminar a capacidade de defesa aérea (do outro país) para estabelecer uma zona de exclusão, então que ninguém tenha ilusões aqui. Seria uma operação militar - não só dizer às pessoas para que não voem na área".
Na terça-feira, agentes de fronteira da Tunísia fizeram disparos para o alto, na tentativa de controlar uma multidão que tentava deixar a Líbia.
Cerca de 70 mil pessoas passaram pelo posto fronteiriço de Ras Jdir nas últimas duas semanas, e centenas de milhares de outros trabalhadores estrangeiros ainda devem deixar a Líbia.
Nessa passagem entre Líbia e Tunísia, milhares de migrantes de Bangladesh pressionavam os portões do posto fronteiriço, revoltados com a falta de ajuda por parte do seu governo.
Grupos de trabalhadores migrantes da África Ocidental também entoavam palavras de ordem pedindo auxílio, e agitavam as bandeiras de Gana e da Nigéria.
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