Forças sírias mataram 20 manifestantes nesta sexta-feira, disseram ativistas, apesar da promessa do presidente Bashar al Assad de interromper a repressão militar aos dissidentes. Estimulados pelos apelos dos EUA e da União Europeia a favor da renúncia de Assad, milhares de pessoas foram às ruas da Síria pedir democracia.
Os incidentes mais graves desta sexta-feira ocorreram na província de Deraa, no sul, berço da rebelião contra Assad, iniciada em março.
"Tchau, Bashar, nos vemos em Haia", gritavam manifestantes na cidade de Homs, região central do país, mostrando os sapatos (o que no mundo árabe é um sinal de desprezo). "Nós queremos vingança contra Maher e Bashar", diziam outros, referindo-se ao líder sírio e a seu poderoso irmão.
"O povo quer a execução do presidente", repetia uma multidão numa região da província de Idlib, no norte da Síria.
O ativista local Abdallah Aba Zaid disse que 18 pessoas foram mortas na província de Deraa, incluindo oito na cidade de Ghabaghab, cinco em Hirak, quatro em Inkhil e uma em Nawa. Segundo ele, dezenas ficaram feridas.
A entidade Observatório Sírio dos Direitos Humanos afirmou que outras duas pessoas foram mortas no bairro de Bab Amro, em Homs.
A Síria expulsou a maior parte da imprensa estrangeira do país, por isso é difícil verificar os relatos vindos de lá. Investigadores da ONU dizem que as forças de Assad podem ter cometido crimes contra a humanidade na repressão aos protestos dos últimos meses.
As preces da sexta-feira ao meio-dia, as mais importantes da semana para os muçulmanos, têm dado origem às maiores manifestações na Síria - e consequentemente aos incidentes mais violentos. Na semana passada, 20 pessoas foram mortas durante protestos em que a multidão, desafiadora, gritava: "Só para Deus nos ajoelhamos."
Assad disse nesta semana ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que havia ordenado o fim das operações de suas forças de segurança contra os manifestantes. Mas ativistas disseram que os soldados continuam atirando.
"Talvez Bashar al Assad não considere a polícia como 'forças de segurança'", disse uma testemunha na cidade de Hama, onde policiais usaram metralhadoras, na noite de quinta-feira, para impedir um protesto.
A TV estatal síria informou que homens armados atacaram um posto policial na província de Deraa, matando um policial e um civil, e ferindo dois outros.
Imagens colocadas na Internet dos protestos desta sexta-feira sugerem que, embora disseminadas, as manifestações estão menores do que no seu auge, em julho, antes de Assad enviar tanques e soldados para ocuparem várias cidades.
Além de pedir a renúncia de Assad, os EUA impuseram na quinta-feira novas sanções ao regime da Síria, um país estratégico, pois faz fronteira com Israel, Líbano, Iraque, Jordânia e Turquia, além de ser aliado do Irã.
Já a Rússia, que resiste aos apelos ocidentais pela imposição de sanções da ONU a Damasco, disse nesta sexta-feira que é contra a pressão pela renúncia de Assad, pois acha que ele precisa de mais tempo para implementar reformas.