O governo da Turquia afirmou hoje que revisará seus laços com Israel se todos os ativistas turcos detidos na ação militar israelense contra uma flotilha humanitária não forem soltos até o fim do dia, segundo o ministro das Relações Exteriores Ahmet Davutoglu.
A ação militar de Israel contra os seis navios que pretendiam levar ajuda à Faixa de Gaza terminou com nove ativistas mortos na segunda-feira. O primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, disse que Israel corre o risco de perder o apoio de seu "único amigo" no Oriente Médio, a própria Turquia.
Erdogan fez a declaração em conversa por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, informou o governo turco. O escritório do premier emitiu comunicado notando a importância dos passos de Israel nos próximos dias para o posicionamento a ser tomado pela Turquia. Erdogan qualificou o incidente internacional como "inaceitável" e "ilegal", segundo o comunicado.
O primeiro-ministro ressaltou que o bloqueio israelense na Faixa de Gaza, em vigor desde que o grupo islâmico Hamas tomou controle do território, tem de ser encerrado. Também pediu que Israel solte logo os ativistas ainda detidos. Pelo menos quatro turcos estão entre os nove mortos no incidente.
A Turquia convocou seu embaixador em Tel-Aviv e desistiu de planos para realizar exercícios militares conjuntos com os israelenses. Ontem, Erdogan qualificou a ação de Israel como um "massacre" e afirmou que ela "dinamita a paz regional e espalha a instabilidade". País de maioria muçulmana, a Turquia se tornou o principal aliado regional de Israel em 1996, quando as duas nações firmaram um tratado de cooperação militar. As relações, porém, estão em baixa desde uma violenta ação militar na Faixa de Gaza, no ano passado.
Investigação
O ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, disse hoje que Israel não deve poder fazer sua própria investigação no incidente com a flotilha humanitária. "Israel é um suspeito e suspeitos não podem realizar investigações", afirmou Davutoglu, em Ancara. "Nós gostaríamos que uma comissão independente investigasse Israel."
Davutoglu tratou ainda da reação do governo Obama ao caso. "Nós não estávamos satisfeitos com o comunicado divulgado (na segunda-feira) pela Casa Branca, mas depois eles emitiram comunicados demonstrando solidariedade com a Turquia", disse. "Nós estamos satisfeitos com o apoio americano."
Deportação
O procurador-geral de Israel, Yehuda Weinstein, disse hoje que todos os quase 700 ativistas detidos no país serão deportados até o fim do dia. Todos foram presos após Israel agir militarmente para interceptar uma flotilha que pretendia levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Weinstein afirmou que Israel decidiu não processar nenhum deles.
Funcionários israelenses haviam dito que avaliavam a possibilidade de processar cerca de 50 pessoas envolvidas no incidente. Mas Weinstein escreveu uma ordem hoje em que afirma que "mantê-los aqui traria mais danos aos interesses vitais do país que benefícios".