O presidente Evo Morales e oito dos nove governadores bolivianos iniciaram nesta quinta-feira (18) um diálogo a portas fechadas em busca de acordos para superar um longo e violento conflito político que nas últimas semanas ameaçou dividir o país.
O encontro, em um centro de convenções na periferia da cidade central de Cochabamba e iniciado com quase duas horas de atraso às 08h50 (9h50 de Brasília), acontecia enquanto a normalidade retornava a grande parte do país, após uma onda de protestos anti-governo que deixou pelo menos 17 mortos.
"Esta é talvez a última oportunidade de resolver os problemas nacionais em paz", disse ao chegar à reunião o governador do Departamento sulista de Tarija, Mario Cossío, porta-voz dos distritos opositores que reclamam autonomia e rejeitam uma nova Constituição indigenista-socialista impulsionada por Morales.
Não foi divulgada a programação do encontro, embora o presidente Morales tenha dito previamente que pretendia que este transcorresse sem interrupções para produzir um acordo antes de 30 dias.
Os Departamentos de Santa Cruz, a capital econômica do país, Beni, Pando e Tarija lideraram nas últimas três semanas uma onda de protestos que incluiu violentas invasões de repartições públicas, bloqueios de estradas e sangrentos enfrentamentos com seguidores de Morales.
Os distritos, que concentram a maior parte da riqueza do empobrecido país, se opõem à nova Constituição, que aprofunda a nacionalização da economia, dá mais poder à maioria indígena e combate os latifúndios, especialmente nas terras baixas do leste da Bolívia.
Após a onda de violência, a oposição decidiu aceitar um convite do governo ao diálogo, que inclui dar mais poder aos departamentos opositores e lhes devolver parte da arrecadação de um imposto sobre os hidrocarbonetos.
Em troca, a oposição deveria aceitar que Morales, que na segunda-feira recebeu um forte apoio dos mandatários sul-americanos em uma cúpula da Unasul em Santiago, no Chile, consulte a população sobre sua nova carta magna.
"O governo está certo de que é possível um acordo que garanta a continuidade do processo de mudanças, começando pela nova Constituição, e ao mesmo tempo responda às demandas regionais de autonomia," disse o vice-ministro de Descentralização, Fabián Kaksic.