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O governo da Líbia vai deportar o jornalista brasileiro Andrei Netto, um dos enviados do jornal "O Estado de S. Paulo" para cobrir os conflitos no país. Segundo o editor de Internacional do Estadão, Roberto Lameirinhas, o repórter não estava com a documentação exigida para trabalhar em território líbio. Após oito dias preso, Netto foi libertado nesta quinta-feira (10) e deve voltar para Paris, onde mora, nesta sexta (11).

A Líbia enfrenta desde 15 de fevereiro uma grave crise política, com rebeldes pedindo a saída do ditador Muamar Kadafi, no poder desde 1969. O governo reprimiu fortemente os protestos, o que não impediu os rebeldes, a partir da cidade de Benghazi, de dominarem boa parte do país. Há milhares de mortos, e a situação é de crise humanitária, segundo a ONU.

A comunidade internacional aumenta a pressão pela saída do coronel, mas ele afirma que vai ficar no poder e lança ofensiva para tentar recuperar as cidades tomadas pelo rebelde.

Coronhada

Lameirinhas confirmou em entrevista em São Paulo que o repórter, que chegou à Líbia no dia 19 de fevereiro, "levou uma coronhada" no momento em que foi preso por forças aliadas ao presidente Kadafi, no dia 2 deste mês. Ele ficou em uma cela isolada, onde recebia água e comida e teve negado o direito de entrar em contato com as autoridades brasileiras durante o período da prisão.

A editora Luciana Constantino informou que Netto foi preso na Líbia por quatro homens e obrigado a usar um capuz. O jornalista já está em Trípoli, a capital do país árabe.

O Estadão argumenta que Netto foi preso no momento em que tentava regularizar sua situação no país. De acordo com o editor de Internacional, um jornalista do "The Guardian" estava com Netto e continua preso na Líbia. "Ele ainda não foi libertado, está em outra prisão. É cidadão iraquiano e não britânico."

Lameirinhas disse que conversou com Netto pouco antes das 16h30 e ouviu que ele "está bem, sem nenhum tipo de ferimento". Em seguida, completou: "Ele já falou com a mulher em Paris e está muito feliz em ser libertado". De acordo com o editor, o jornalista não foi agredido durante os oito dias da prisão. O repórter disse ter ficado em uma base militar nos arredores de Trípoli. "De maneira nenhuma ele foi torturado; exceto a tortura psicológica de ir para uma prisão em cela isolada." O repórter, assim que foi solto, recuperou seus documentos pessoais, o dinheiro que carregava e o laptop.

Na embaixada

O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, disse que Netto está abrigado na casa do embaixador brasileiro em Trípoli, George Ney Fernandes. A soltura do brasileiro, que entrou pela fronteira da Líbia com a Tunísia, foi confirmada também pelo Ministério das Relações Exteriores.

Gandour disse que o repórter não mantinha contato com o Brasil todos os dias, mas "sempre voltava (com informações), nos tranquilizando".

O Estadão havia perdido todo contato direto com Netto havia uma semana. Até domingo, o jornal relatou que recebia informações indiretas de que o repórter estava bem, escondido na região de Zawiya - cenário de violentos confrontos entre Kadafi e os insurgentes, a 30 km de Trípoli. A comunicação direta com a redação - por meio de telefonemas e e-mails - havia sido propositadamente cortada por segurança, afirmavam fontes líbias ao jornal.

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