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Governo turco nega vingança contra envolvidos em golpe frustrado

Policiais armam esquema de segurança em frente à sede do governo turco | Ilyas Akengin/AFP
Policiais armam esquema de segurança em frente à sede do governo turco (Foto: Ilyas Akengin/AFP)

Em uma tentativa de tranquilizar a comunidade internacional, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, negou nesta terça-feira (19) a existência de um “espírito de vingança” contra as pessoas envolvidas na tentativa de golpe na semana passada. Quatro dias depois do levante de uma facção dos militares, o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan continua o expurgo contra servidores. Uma autoridade turca informou nesta terça que a Organização Nacional de Inteligência afastou cem funcionários, elevando o número de servidores destituídos ou detidos para mais de 20 mil.

“Uma coisa assim é absolutamente inaceitável no Estado de direito”, disse Yildirim no Parlamento. “Esta nação tira sua força do povo, não dos tanques”.

As imagens que mostram agressões e humilhações contra os soldados golpistas que se renderam provocaram uma grande polêmica, sobretudo nas redes sociais.

“O nível de vigilância e de atenção será importante nos próximos dias”, advertiu o secretário de Estado americano, John Kerry.

Os funcionários da inteligência turca foram afastados por suspeita de ligações com o movimento religioso do pregador Fetulhah Gülen, responsabilizado pela tentativa de golpe.

Em uma entrevista ao canal CNN, Erdogan explicou que sua vida correu perigo durante a tentativa de golpe, mas os detalhes de seu retorno da cidade de Marmaris (oeste), onde estava de férias, continuam sendo confusos.

“Se tivesse ficado 10 ou 15 minutos a mais no hotel, teriam me matado, sequestrado ou transferido”, disse na segunda-feira (18) à noite à rede de televisão americana.

Erdogan também afirmou que aceitaria o retorno da pena de morte se o Parlamento turco decidir a favor da medida. Ao mesmo tempo, declarou que a reunião do conselho de segurança nacional de quarta-feira “vai adotar uma decisão importante”.

Até o momento, ao menos 118 generais e almirantes foram detidos em todo o país por suposta participação no golpe, segundo a agência de notícias estatal Anatolia.

Um tribunal de Ancara determinou a prisão preventiva de 26 generais e almirantes do Exército na segunda-feira, acusados, entre outros crimes, de tentativa de derrubar a ordem constitucional, de liderar um golpe armado, tentativa de assassinato do presidente Erdogan e formação de um grupo armado. Entre os presos está o ex-general Akin Ozturk.

Nove mil servidores detidos

No total, segundo Yildirim, 6.038 militares, 755 magistrados e cem policiais foram detidos. Quase nove mil funcionários do ministério do Interior, incluindo policiais e oficiais, foram demitidos.

O general Ozturk, que segundo parte da imprensa teria sido o cérebro da intentona, nega as acusações.

“Não sou a pessoa que planejou ou liderou o golpe. Não sei quem o fez”, afirmou o general em um texto apresentado ao tribunal, de acordo com a Anatolia. “Com base em minha experiência, acredito que a estrutura paralela (uma referência à rede do pregador Fetulhah Gülen) aplicou a tentativa de golpe de Estado militar”.

O tenente-coronel Erkan Kivrak, assistente militar de Erdogan, também foi detido, segundo a agência. O Estado-Maior afirmou que a grande maioria das Forças Armadas não teve absolutamente nada a ver com a tentativa de golpe.

A respeito de Gülen, Ancara indicou ter enviado informações a Washington por seus supostos vínculos com a tentativa de golpe, anunciou Yildirim. Mas o clérigo, exilado nos Estados Unidos desde 1999, nega qualquer envolvimento na intentona.

“Sempre fui contra a intervenção de militares na política interna”, afirmou na segunda-feira em uma entrevista à AFP nos Estados Unidos. “Em um panorama como este, já não é possível falar de democracia, de Constituição, de uma forma de governo republicano”, acusou o líder opositor, ex-aliado de Erdogan e atualmente seu grande inimigo.

Além disso, o religioso afirmou que o governo pode ter desempenhado um papel na tentativa de golpe.

“Há informações da imprensa que indicam que membros do partido no poder estavam a par da tentativa oito, 10 ou 14 horas antes”, disse.

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