Embaixada
Abrigo do Brasil levou a diálogo, diz Amorim
Folhapress
Rio de Janeiro - O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) afirmou ontem, no Rio, que o abrigo dado pela Embaixada do Brasil ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, foi fundamental para o diálogo que acontece agora no país.
"(Hoje) Há um diálogo que não existia; um mês atrás esse diálogo estava parado. Então o Brasil, até pela sua atitude de ter oferecido essa proteção ao presidente Zelaya, contribuiu para que essa solução viesse. Agora, a solução virá dos hondurenhos, com a ajuda da comunidade internacional, e é assim que tem de ser, e estamos otimistas, afirmou.
Amorim defendeu que as eleições em Honduras aconteçam com Zelaya já restituído ao poder, "dentro do sistema democrático", sob pena de não terem "credibilidade".
O ministro citou ainda a classificação de Honduras para a Copa do Mundo, intensamente celebrada hoje na capital.
"Vamos torcer para que essa vitoria no futebol inspire movimentos pacifistas."
No dia decisivo para as negociações entre representantes do presidente deposto, Manuel Zelaya, e do governo interino de Honduras, os hondurenhos esqueceram a crise e saíram às ruas para comemorar a classificação da seleção nacional para a Copa do Mundo de 2010, na África. O presidente de fato, Roberto Micheletti, aproveitou a conquista e decretou feriado nacional, além de promover uma grande festa para receber os jogadores na sede do governo.
A seleção de Honduras, mesmo jogando fora de casa, derrotou El Salvador por 1 a 0, na quarta-feira à noite, e se classificou diretamente para o Mundial. Zelaya, que está refugiado na Embaixada do Brasil, também comemorou a classificação.
Em meio à festa popular, e com o relógio aproximando-se da meia-noite, prazo final imposto por Zelaya para um acordo, a restituição do presidente deposto continuava incerta ontem. Nos últimos dois dias, emissários de Zelaya e do governo Micheletti entraram em acordo sobre sete dos oito pontos fundamentais previstos no Pacto de San José.
Mesmo sob o clima da conquista no futebol, o presidente deposto aumentou a pressão e insistiu que o diálogo com os líderes golpistas é "extremamente delicado e perigoso".
Na quarta-feira, o negociador zelaysta Victor Mesa chegou a anunciar que as facções rivais hondurenhas haviam alcançado uma resolução de consenso. O texto comum seria então supostamente analisado pelos presidentes de fato e deposto.
Micheletti, entretanto, negou qualquer acerto. Segundo o líder de fato, resta ainda uma discórdia sobre a instância a que deve ser submetida a proposta de restituição. Zelaystas desejariam a aprovação do Congresso; golpistas, a da Suprema Corte.
Aliados do presidente deposto declararam ontem que empresários estariam pressionando Micheletti a não aceitar a restituição de Zelaya. O deputado zelaysta Marvin Poncé, do partido Unificação Democrática, acusou a Associação Nacional de Indústrias (Andi) de estar por trás do boicote. O presidente da organização, Adolfo Facussé, nega.
A Frente Nacional de Resistência (FNR), ala mais radical da base de apoio de Zelaya, denunciou a falta de "vontade política" dos golpistas para encerrar a crise. O grupo também exigiu novamente a suspensão "imediata e total" do estado de sítio, imposto pelo governo de fato há três semanas.
EUA
Apesar das negociações não avançarem ontem, a diplomacia americana voltou a conclamar os hondurenhos a acordarem uma solução pacífica para a crise. "O que estamos tentando fazer agora é encorajá-los a continuar (a negociar), porque estamos perto de um acordo e queremos vê-lo ser firmado", disse Robert Wood, porta-voz do Departamento de Estado.
Desde o início da crise, no dia 28 de junho, o presidente Barack Obama tem exigido a restituição de Zelaya. Ele ainda ameaçou não reconhecer as eleições presidenciais de novembro, caso o governo golpista não ceda.
Mas o tema está lhe causando desgaste no Congresso. Deputados republicanos se solidarizaram com Micheletti e acusam Obama de apoiar um aliado do venezuelano Hugo Chávez. Com a polêmica, estão travadas no Senado as confirmações do novo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, e do secretário para Assuntos Hemisféricos, Arturo Valenzuela.
Ontem, o republicano Dick Lugar, do Comitê de Relações Exteriores do Senado, exortou a Organização dos Estados Americanos (OEA) a reconhecer a votação de novembro, mesmo sem a volta de Zelaya.
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