O governo norte-americano acusou o Irã nesta quinta-feira (6) de tentar ganhar tempo ao aceitar a mediação do Brasil em seu impasse nuclear e disse que os Estados Unidos não serão detidos em tentar aprovar novas sanções na ONU.
O principal assessor dos EUA para a América Latina, Daniel Restrepo, descreveu a tentativa de Teerã como uma parada tática, um dia após o país ter aceitado "em princípio" a proposta do Brasil de agir como intermediário para ajudar a reiniciar um acordo de troca de combustível nuclear entre o Irã e potências Ocidentais.
O Irã pareceu tentar aproveitar a relutância entre alguns membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, incluindo o Brasil, nas discussões para mais sanções contra Teerã nas próximas semanas, visando pressionar a República Islâmica a limitar suas supostas ambições nucleares.
"Através do seu envolvimento com o Brasil e outros, parece que os iranianos estão tentando ganhar tempo", disse Restrepo durante o Reuters Latin American Investment Summit.
"Como a administração (dos EUA) deixou bem claro, achamos que cabe a nós o momento de avançar no Conselho de Segurança da ONU e este é o meio mais eficaz de alcançar um resultado positivo sobre esta questão", disse ele.
O Brasil, cujas relações comerciais com o Irã foram fortalecidas nos últimos anos, deseja evitar sanções e acredita que elas não são eficazes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na quarta-feira que o Brasil está empenhado em ajudar para uma solução no impasse nuclear entre o Irã e o Ocidente.
O governo norte-americano tem concentrado seus esforços diplomáticos em tentar convencer Rússia e China, países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, a recuarem da resistência que têm à quarta rodada de sanções da entidade ao Irã.
Washington foca agora em países que são membros não-permanentes do Conselho, como Brasil e Turquia, que tentam reiniciar o acordo de troca de combustível com Teerã numa tentativa de impedir novas sanções contra o país.
O Brasil defende o compromisso no qual o Irã poderia exportar seu urânio para outro país em troca de combustível nuclear.
Potências ocidentais acusam o Irã de tentar obter armas nucleares. Teerã se defende, afirmando que deseja tecnologia nuclear para a geração de eletricidade.
Influência iraniana na América Latina
Restrepo também revelou preocupação dos EUA sobre os esforços do Irã de aumentar sua influência na América Latina, região onde Washington tem domínio histórico. As relações entre Teerã e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um estridente líder anti-EUA, foram intensificadas nos últimos anos.
"O envolvimento de qualquer um nas Américas, na medida em que alimenta a instabilidade ou a insegurança, é um problema para todas as Américas, não apenas aos EUA", disse Restrepo, diretor-sênior para Assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
"Continuamos... vigilantes para garantir que essas atividades não tenham impacto negativo sobre os EUA e para a segurança e a estabilidade das Américas."
Questionado sobre um acordo entre Teerã e Caracas de colaboração em tecnologia de energia nuclear, Restrepo disse: "Esperamos que todos cumpram as suas obrigações internacionais de não-proliferação."