Brasília e Teerã - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse em entrevista à emissora de tevê oficial Press TV, com transmissões em inglês, que não permitirá a vinda ao Brasil de Sakineh Ashtiani, condenada a morrer apedrejada por adultério.
"Existe um juiz, e os juízes são independentes. Mas conversei com o chefe do Judiciário, e ele também não concorda, disse. "Acho que não há necessidade de criar problema para o presidente Lula e enviá-la ao Brasil.
Horas depois, a Embaixada do Irã em Brasília soltou um comunicado questionando se o Brasil teria de ter, no futuro, um lugar para abrigar criminosos estrangeiros.
"Quais são as consequências desse tipo de tratamento a criminosos e assassinos? [...] Será que a sociedade brasileira e o Brasil terão de ter, no futuro, um lugar para criminosos de outros países em seu território?, questiona.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no dia 31, durante comício em Curitiba, que usaria a sua "amizade com o iraniano para interceder por Sakineh, símbolo de uma mobilização internacional anti-Irã, em prol do respeito aos direitos humanos.
"Se essa mulher está causando incômodo, a receberíamos de bom grado, afirmou. Dias depois, Lula afirmou que, "como cristão, não podia imaginar "alguém ser apedrejado por traição.
Dias depois, Ramin Mehmanparast, o porta-voz da Chancelaria do Irã, foi a público afirmar que o brasileiro fizera a proposta sem "informações suficientes sobre o caso, por ser "uma pessoa muito humana e emotiva.
No texto divulgado ontem, a Embaixada do Irã reafirma considerar "as declarações e o chamado de Lula "um pedido de um país amigo, mas o atribuiu "a sentimentos puramente humanitários.
Na entrevista, Ahmadinejad disse esperar que a questão "seja resolvida, sem explicar se com a execução ou com a libertação da mulher.
Acusações
O caso de Sakineh ganhou repercussão internacional há alguns meses, quando seus filhos lançaram abaixo-assinado on-line por sua soltura.
Sob pressão, a Suprema Corte do país concordou em revisar o processo, suspendendo a sentença, mas sem descartar execução.
Sob os holofotes, as autoridades passaram a reforçar, inclusive em reportagem exibida na tevê oficial na semana passada, que Sakineh é acusada não só de adultério mas também de coautoria no homicídio. A defesa nega e diz que mesmo uma condenação por coautoria jamais resultaria em apedrejamento.
O ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o governo brasileiro continua negociando com Teerã para que Sakineh seja enviada ao Brasil na condição de asilada ou refugiada política.
"O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela venha para o Brasil", afirmou o ministro.