Genebra - Sessões de tortura e isolamento levaram a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, sentenciada à morte por apedrejamento, a confessar adultério e participação no assassinato de seu marido, segundo a Anistia Internacional e seu novo advogado, Javid Kian.
Sakineh, detida na penitenciária central de Tabriz, confessou ontem os dois crimes diante dos filhos, observada de perto por policiais. O mais jovem, Sajad, se desesperou após a confissão, um sinal de que a execução é iminente. Na noite de quarta-feira, a tevê estatal iraniana transmitiu uma entrevista na qual Sakineh admitia ter ajudado a assassinar seu marido.
"Ela nos repetiu que foi ela quem matou nosso pai e que cometeu adultério. Mas os gestos corporais dela eram de alguém que não acreditava em uma só palavra do que estava dizendo", contou Sajad. "Víamos nos olhos dela que ela queria nos dizer para não acreditarmos no que estava dizendo", acrescentou. A conversa durou dez minutos e a família esteve separada por um vidro.
A Anistia Internacional denunciou o governo iraniano por ter "orquestrado a confissão" para agora usá-la na Corte Suprema, o que seria "uma prática do regime iraniano". O tribunal deve se reunir no fim de semana para decidir o caso e determinar a pena. A entidade apela para que essas declarações não sejam usadas como prova. A Anistia acrescenta que as denúncias de tortura são frequentes no regime iraniano.
Fontes próximas ao processo disseram que, se a execução for determinada, a Justiça deve esperar até o final do Ramadã início de setembro para cumprir a ordem da corte.
Sajad afirmou que sua mãe está "muito assustada". "Foi torturada fisicamente", disse. "Meu irmão chorou a noite toda após ver a tevê. Obviamente não acreditamos nessa versão. Mas sabemos que, ao ser obrigada a dizer isso, está nos indicando que será executada", disse Sajad.
Há dez dias o advogado submeteu um documento de 35 páginas apelando para a revisão do caso. A iraniana foi condenada em 2006 por adultério e recebeu a pena de 99 chibatadas. Seu caso foi reaberto e ela foi condenada à morte por apedrejamento.
"Ela foi espancada e levou golpes muito violentos", disse seu advogado. A iraniana estava sendo defendida pelo ativista Mohammed Mostafaei, obrigado a fugir para a Noruega diante da pressão do governo.