As recentes condenações do governo brasileiro ao regime líbio têm evidenciado uma conduta mais cautelosa do Itamaraty em comparação às posturas adotadas durante a gestão do ex-presidente Lula. A justificativa, explicam especialistas, é estratégica: neste primeiro ano de mandato, a presidente Dilma Roussef (PT) precisa construir a base de sua aceitação internacional. Deste modo, posicionamentos considerados mais polêmicos como os que marcaram a chancelaria de Celso Amorim estão dando lugar a um maior alinhamento com os Estados Unidos e demais potências ocidentais.
"Até que a presidente Dilma consiga mostrar ao cenário internacional que é uma pessoa confiável, ela deve manter essa postura mais cautelosa", avalia o coordenador do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, Juliano da Silva Cortinhas.
Segundo ele, trata-se de uma estratégia comum a quaisquer governos em primeiro ano de mandato. "Procura-se um posicionamento mais consensual, analisar o campo de jogo. As posturas vão sendo estudadas e as relações de confiança, construídas. Os diplomatas precisam tatear quais os verdadeiros aliados, saber em quem podem confiar. Até com o Barack Obama foi assim."
Na avaliação de Cortinhas, as verdadeiras cartas da diplomacia de Dilma Roussef devem ser mostradas no segundo ano de mandato e consolidadas no terceiro. No quarto, explica ele, retoma-se a cautela por ser ano eleitoral. Pesa ainda, diz, a aspiração do Itamaraty por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. "O Brasil tem de ir com a maioria. Não vai ser o voto contrário, diferente."
Tal alinhamento com os Estados Unidos, no entanto, preocupa o professor de Relações Internacionais Williams Gonçalves, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
"No meu entendimento, é problemático", afirma. "Estamos vivenciando uma mudança muito significativa nas relações internacionais, com o declínio dos Estados Unidos. Eles, agora, assistem à revolta árabe roendo unhas, é mais uma situação em que lhes foge o controle. Por isso, não podemos estar associados a eles. No entanto, a verdade que é estamos sendo pautados pela agenda norte-americana, sendo que temos de ter a nossa."
Segundo Gonçalves, o grande temor norte-americano em relação à crise árabe é com um aumento da influência chinesa na região. "Uma vez que as necessidades energéticas da China são colossais, essa é uma oportunidade grande para o país asiático se aproximar dos novos governos, já que essas ditaduras que estão caindo eram todas próximas dos EUA."
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