Jovens chegam à Catedral de Colônia, na Alemanha, para ouvir Bento XVI em uma das edições da Jornada Mundial da Juventude| Foto: Jonatas Dias Lima/Gazeta do Povo
CARREGANDO :)
Veja também
  • Bento XVI em sete palavras
  • Fatos e relatos
  • O homem por trás das vestes brancas
  • Um novo Papa antes da Páscoa
  • Líderes comentam o anúncio surpreendente de Bento XVI
  • Renúncia, um ato de coragem

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, garantiu que a renúncia do Papa Bento XVI não irá interferir no cronograma da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que está prevista para ocorrer em julho, no Rio, entre 23 a 28 de julho.

Publicidade

Dom Orani garantiu ontem que o sucessor de Bento XVI estará presente. A organização do evento aguarda a escolha do próximo pontífice para definir detalhes da visita e solicitações que podem vir do novo Papa.

O Setor Juventude da Arquidiocese de Curitiba também emitiu nota informando que os preparativos para o recebimento da cruz e do ícone de Nossa Senhora, símbolos da JMJ, permanecem sem alteração. A cruz e o ícone de Nossa Senhora estarão em Curitiba em 23 e 24 de fevereiro.

Cativante

Durante todo o pontificado, o carismático João Paulo II deixou como marca a proximidade com os mais jovens e fundou a Jornada Mundial da Juventude, o maior evento da Igreja Católica em número de participantes. Mesmo com a difícil tarefa de suceder João Paulo II, Bento XVI reuniu milhões de jovens nas três JMJ das quais participou.

Contrariando as previsões mais pessimistas, a personalidade introspectiva do pontífice alemão não foi obstáculo para atrair a juventude católica. Com poucos meses de pontificado, Bento XVI reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas em Colônia, na Alemanha, em sua primeira visita à terra natal como pontífice.

Publicidade

Em 2008, na edição que ocorreu em Sydney, 400 mil jovens compareceram à distante Austrália, país onde os católicos são minoria. Por fim, em 2011, em Madri, Espanha, o público chegou a aproximadamente 2,5 milhões de pessoas.

Segundo o padre Alexsan­der Cordeiro Lopes, asses­sor da juventude na Arquidiocese de Curitiba, que esteve nas edições de Sydney e Madri, o papa conquistou os jovens com seus discursos cativantes. "Se os jovens vinham para a JMJ para ver João Paulo II, eles passaram a vir para ouvir Bento XVI", diz. Para ele, o próximo Papa será acolhido com o mesmo carinho por tratar-se do sucessor de São Pedro, independentemente de suas características pessoais.

O padre destaca um momento da JMJ de Madri, quando uma forte chuva passou a cair no campo aberto onde ocorria a vigília final e o pontífice se recusou a sair do palco, mesmo com a insistência de seus assessores.

"Naquele momento, todos que estavam na vigília viram a determinação do Papa em permanecer junto com jovens", diz.

Para o estudante de Direito na Universidade Federal do Paraná Fulvio Picoloto, que também esteve na última edição da JMJ, é a reunião de jovens muito diferentes por um mesmo objetivo o que chama a atenção no evento. "Ver aquela multidão falando todo tipo de idioma e professando a mesma fé é algo que realmente emociona", diz.

Publicidade

DepoimentoA figura de Cristo

Fábio Luporini, repórter do Jornal de Londrina, participou da última edição da JMJ, em Madri

A expectativa era grande. Foram cinco horas debaixo de um sol de mais de 40 graus. Como eu, milhares de outros jovens aguardavam a chegada do Papa Bento XVI para a Jornada Mundial da Juventude, em Madri, em agosto de 2011. Estava longe de ser um carisma como o do antecessor, o polonês João Paulo II. Era, entretanto, impressionante como a Igreja parecia estar mais jovem sob o pontificado do alemão Joseph Ratzinger. Mais de 2 milhões de jovens participaram da JMJ na Espanha.

Longe de qualquer prenúncio de renúncia, era visível o cansaço de um homem que já cruzara o limiar de oito décadas. Sobre os ombros, o peso de um cargo criado pelo próprio Cristo. O peso de crises e escândalos. O peso do secularismo. À sombra de um pontificado como o do carismático João Paulo II, que enfrentou o desafio de levar a Igreja ao novo milênio. Vejo Bento XVI como um Papa de transição, como foi João XXIII, que convocou o Concílio Vaticano II e provocou profundas transformações na Igreja.

Publicidade

A despeito de todas as críticas, Bento XVI defendeu a moral cristã. Seguiu com fidelidade a doutrina católica a respeito da família. Conservou os valores fundamentais do Evangelho. O Papa se aproximou dos jovens. Sugeriu insistentemente ao longo dos últimos anos que a juventude precisava ocupar com responsabilidade os novos areópagos do mundo moderno: as redes sociais. Não somente incentivou, como ele próprio aderiu à evangelização pela internet, criando o próprio Twitter, no fim do ano passado. E os jovens retribuíram essa aproximação.

A expectativa de participantes da JMJ no Rio de Janeiro, em julho deste ano, é o dobro do público em Madri. Muito embora Bento XVI fosse adjetivado como sisudo, antipático e nada carismático. Mentira. Este foi o Papa das surpresas. Em seu pontificado, nunca houve perseguição a teólogos, como outrora houvera. Curiosamente, as pessoas gostavam de ouvi-lo, pois é um excelente intelectual, teólogo, filósofo e catequista. As costumeiras audiências papais às quartas-feiras, no Vaticano, estavam sempre repletas de fiéis do mundo todo.

Ratzinger era aclamado onde estivesse. Como em Madri, quando os jovens gritavam pelo Papa – "Esta é a juventude, Papa!", "Bento, Bento" –, em Roma não era diferente. Tampouco seria no Rio de Janeiro. Em Londrina, por exemplo, milhares de jovens estão se programando para o encontro com o Sumo Pontífice. O sucessor de Bento certamente virá à JMJ do Rio, como Ratzinger fez em 2005, na JMJ da Alemanha, compromisso marcado pelo antecessor polonês. Apesar da mudança de Papa, nada muda. Pois o que os jovens buscam em João Paulo II, em Bento XVI ou em qualquer outro Papa que vier, é a figura de Cristo.