O jornalista francês Romeo Langlois, mantido refém por um mês na Colômbia pela guerrilha das Farc, retornou nesta quinta-feira (31) à França com uma lembrança "aterrorizante" de sua captura, e a confissão de que temeu viver o mesmo drama da política franco-colombiana Ingrid Betancourt.
O jornalista pegou um avião da Air France que chegará a Paris na manhã de sexta-feira (01).
Entregue pela guerrilha na quarta-feira (30) a uma missão humanitária na selva de Caquetá (sul), Langlois confessou que pensou "e muito" em Betancourt, que foi sequestrada pelas Farc entre 2002 e 2008 até que as forças militares da Colômbia a resgatassem.
"Como alguém não vai pensar no drama de Ingrid, em momentos difíceis, de solidão?", disse Langlois em coletiva de imprensa em Bogotá na manhã desta quinta-feira.
O jornalista, correspondente da rede de televisão France 24, caiu em poder das Farc em 28 de abril, em meio a "tiros que vinham de todos os lados" entre guerrilheiros e militares aos quais acompanhava para fazer uma reportagem sobre operações antidrogas, na mesma região onde Betancourt foi sequestrada.
Ferido a bala no braço, Langlois viu o militar a cargo de sua proteção morrer. Então, escondeu-se em uns arbustos onde foi encontrado pelos guerrilheiros, segundo relatou.
"Foi terrível quando os vi se aproximando. Disse a mim mesmo: tomara que não me matem ou me sequestrem", declarou Langlois, ao completar que então gritou "não sou militar, sou civil, não tenho armas, não atirem".
Mas para este jornalista que trabalhou durante cerca de 10 anos na Colômbia na cobertura do conflito interno, o que ocorreu faz parte dos "riscos profissionais".
Langlois defendeu sua decisão de usar um colete à prova de balas e um capacete do exército, o que levou a guerrilha a considerá-lo, em um primeiro momento, "prisioneiro de guerra" por vestir roupas militares.
"Pensei muito, não foi uma decisão tresloucada. As balas, quando chegam, não sabem se você é civil ou não", disse.
Além disso, descartou qualquer responsabilidade dos militares sobre o ocorrido. "Apoio totalmente o exército colombiano. De nenhuma forma é responsável pelo que ocorreu", disse.
Carta
Em sua chegada à França, prevista para a sexta-feira pela manhã, Langlois pretende entregar ao presidente François Hollande uma carta das Farc.
A carta faz um chamado a "países amigos", sobretudo na Europa, para que ajudem na busca de uma solução negociada ao conflito interno de quase meio século na Colômbia.
"A guerrilha quer que muitos países possam contribuir, sobretudo europeus. Quer que outros países participem porque acreditam que apenas entre colombianos vai ser difícil", afirmou Langlois.
Na carta, também pedem desculpas publicamente por tê-lo qualificado como "prisioneiro de guerra".
"É a primeira vez que pedem desculpas e é muito importante que deixem claro que a imprensa não é inimiga", explicou Langlois, ao exortar seus colegas a "cobrir o conflito que está cada vez mais esquecido".
"Minha impressão sobre o que aconteceu é que as Farc querem paz, mas não querem qualquer paz. Podem continuar metendo bala por mais 50 anos", completou.
O jornalista, de 35 anos, é originário da cidade de Toulouse, onde residem seus pais.
Fundadas em 1964, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são a principal guerrilha da Colômbia, com cerca de 9.200 combatentes atualmente, de acordo com o Ministério da Defesa.