A Junta Militar do Egito negou nesta segunda-feira (19) qualquer tipo de envolvimento nos conflitos ocorridos no centro do Cairo, que deixaram 12 mortos e 815 feridos, e acusou terceiros de terem planejado esses incidentes.
Um porta-voz da Junta Militar, o general Adel Emara, denunciou em entrevista coletiva que, desde a revolução de 25 de janeiro, "forças hostis ao povo egípcio" buscam semear a discórdia e "estimular os conflitos entre o exército e o povo, como ocorreu em alguns países próximos", sem informar quem são os responsáveis pelos conflitos.
O porta-voz também advertiu que essas agressões fazem parte de um "plano" que pretende derrubar o Estado não só com os últimos incidentes, mas também com os que ocorreram em outubro e novembro perto do Ministério do Interior e do prédio onde fica a sede da emissora "Rádio e Televisão Egípcia".
Emara informou que esse "plano" começa com a elaboração de reivindicações e a organização de manifestações supostamente pacíficas para, depois, provocar o Exército e cometer agressões contra as instituições do Estado.
Em seguida, segundo ele, os soldados interferem, protegendo os edifícios do governo, mas se espalham rumores sobre o suposto uso da violência pelas forças de segurança, o que estimula o conflito. "Como falar de protesto pacífico enquanto coquetéis molotov são lançados contra a sede do Conselho de Ministros?", perguntou Emara.
Agressões
Durante seu discurso, o porta-voz mostrou vídeos de agressões a soldados e ataques de manifestantes, além de testemunhos de vários detidos, entre eles menores, que confessaram ter recebido dinheiro para atingirem as forças de segurança.
De acordo com Emara, os responsáveis pelos incidentes usaram "meninos de rua, viciados em drogas e desaparecidos" no confronto com o exército.
"Em nenhum momento a Polícia militar ou a Segurança Central receberam ordens para dispersar as manifestações", afirmou o representante do governo. Segundo ele, essas forças reagiram em defesa própria e das instituições do Estado.
Em contraposição, quase 40 políticos egípcios de distintas tendências, desde os Irmãos Muçulmanos até jovens revolucionários, atribuíram à Junta Militar toda a responsabilidade pelo sucedido e criticaram sua má administração da etapa transitória no Egito.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, advertiu nesta segunda-feira aos membros da Junta Militar do Egito que correm o risco de ser processados por cumplicidade em crimes graves se não agirem imediatamente contra a "brutal" repressão no centro do Cairo.
"As autoridades egípcias devem demonstrar um compromisso real com os direitos humanos, incluindo a plena erradicação dos maus-tratos, uma reforma integral das forças de segurança, a suspensão do estado de emergência e o respeito ao império da lei e das liberdades fundamentais", manifestou Pillay.
A reação da Junta Militar ocorre no mesmo dia da construção de um novo muro na rua Sheikh Rihan com o objetivo de impedir a proliferação dos distúrbios, um dia depois da construção de outro muro na rua Qasr al Aini, onde aconteceram os incidentes.
Nessas duas ruas, próximas à praça Tahrir, estão localizados vários prédios governamentais, como as sedes do Conselho de Ministros e das duas câmaras do Parlamento egípcio, além do Ministério do Interior e de Saúde, entre outros.
Como constatou a Agência Efe, a área apresentava um ambiente de normalidade nesta segunda-feira após a suspensão dos incidentes pela construção da barreira.
Muro
Na praça Tahrir, um ativista explicou à Efe que os confrontos foram interrompidos assim que as autoridades acabaram de construir o segundo muro.
"Mas antes, as forças de segurança invadiram a praça Tahrir e agrediram os manifestantes com cassetetes e gás lacrimogêneo para cobrir o Exército enquanto construía a barreira", relatou à Efe o ativista, que expressou seu desejo de que os culpados do assassinato de manifestantes sejam processados.
"Queremos que os culpados sejam executados", disse o ativista de 21 anos, com aspecto cansado, após explicar que viajou de Tanta, ao norte do Cairo, para participar dos protestos na capital.
Em uma lateral da praça, uma enfermeira que trabalha no hospital de campanha da mesquita Omar Makram disse à Efe que, durante a invasão das forças de segurança na praça na manhã desta segunda-feira, houve casos de morte e vários feridos.
A enfermeira destacou que uma das vítimas morreu por um ferimento de bala no coração e que, quando os médicos tentaram identificá-la, encontraram um papel no bolso de sua roupa escrito "Eu te amo, Egito".
Um dos feridos que estava do lado de fora do hospital, que não quis se identificar, indicou à Efe que estava tirando fotos da Polícia atacando os manifestantes no domingo quando começou a ser perseguido. "Eles me seguiram e um policial bateu na minha cabeça com um pedaço de pau".
O jovem indicou que os manifestantes pedem a renúncia da Junta Militar e a transferência do poder para uma autoridade civil escolhida por via democrática.
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