O presidente Juan Manuel Santos dedicou à Colômbia e às vítimas do conflito armado de mais de meio século o Nobel da Paz que ganhou nesta sexta-feira (7) por seus esforços para acabar com a guerra com a guerrilha das Farc. Líderes de todo o mundo que se manifestaram sobre a conquista apontaram o prêmio como um impulso ao acordo entre o governo colombiano e as Farc. A negociação titubeia desde o último domingo (2), quando a população reprovou, em um referendo, os requisitos impostos para a validade do acordo, fechado dias antes.
“Colombianos, este prêmio é de vocês. É pelas vítimas - e para que não haja uma só vítima a mais, um só morto a mais - que devemos nos reconciliar e nos unir para concluir este processo e começar a construir uma paz estável e duradoura”, afirmou o presidente em um discurso televisado na sede presidencial Casa de Nariño.
Antes, em entrevista à Fundação Nobel, Santos afirmou que o Prêmio Nobel será um grande incentivo para alcançar a paz na Colômbia.
“A mensagem é que temos de perseverar e conseguir o fim da guerra. Estamos muito, muito próximos, precisamos apenas nos esforçar um pouco mais”, afirmou, acrescentando que “este prêmio será um grande incentivo para chegar ao final e começar a construção da paz na Colômbia”.
Impulso ao acordo
O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe e diversos líderes mundiais felicitaram Santos pelo prêmio. Uribe adversário político de Santos - e que agora atua junto à oposição para delinear novos traços que possam fazer valer o acordo - desejou ainda que o prêmio contribua para mudar “um pacto nocivo” para o país.
“Felicito o Nobel para o presidente Santos, desejo que conduza a mudanças nos acordos nocivos para a democracia”, tuitou o agora senador Uribe.
Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, disse que o prêmio “é um convite a todos a renovar seu compromisso pela paz”. “Este prêmio também presta uma homenagem à audácia e à perseverança do presidente Santos e a todos aqueles que buscaram construir a paz dia após dia, passo a passo, para sanar as feridas do país, em suas famílias e comunidades.”
A presidente chilena, Michelle Bachelet, disse esperar que o Nobel da Paz “seja o impulso final para o reencontro na Colômbia”, ao mesmo tempo em que secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que “este prêmio que chega em um momento crucial (...) traz esperança e alento necessários à população colombiana. O processo de paz chegou a um ponto em que não se pode retroceder agora”.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados escreveu: “Geralmente não comentamos o Nobel da Paz, mas acho que este será um impulso enorme ao processo de paz, que tem sido uma espécie de montanha russa nas últimas duas semanas”
Declaração importante também veio da política franco-colombiana e ex-refém das Farc Ingrid Betancourt. Ingrid, que chegou a ser candidata à presidência da Colômbia, foi sequestrada pelos guerrilheiros das Farc em fevereiro de 2002 e ficou em cativeiro por seis anos.
“Estou muito, muito feliz”, disse. “ Acredito que não apenas é merecido, mas que também convida a um momento de reflexão na Colômbia, de esperança de paz, da alegria de dizer que, efetivamente, a paz não volta atrás”.
Timoleón Jiménez, chefe das Farc, disse, por sua vez, que ficou feliz por Santos, mas também pelo apoio de Cuba, Noruega, Venezuela e Chile, “sem os quais a paz seria impossível”, escreveu no Twitter.
Farc e governo da Colômbia decidem manter cessar-fogo e discutir “ajustes” ao pacto de paz
A guerrilha das Farc e o governo da Colômbia concordaram nesta sexta-feira em manter o cessar-fogo bilateral e definitivo e discutir as propostas de ajuste ao pacto de paz que surjam depois da rejeição no referendo de domingo.
“Reiteramos o compromisso assumido pelas partes de manter o cessar-fogo bilateral e definitivo decretado em 29 de agosto, e a monitoração e verificação por parte do mecanismo tripartite”, segundo comunicado conjunto lido em Havana, sede das negociações de paz.
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