A revolução árabe vem mudando muita coisa em Zarzis, cidade na costa do Mediterrâneo. Os moradores já não vivem mais com medo da polícia secreta e falam abertamente sobre política. Muçulmanos devotos dizem sentir uma nova liberdade para praticar sua fé. As bandeiras nacionais vermelhas, que balançam em quase todos os lugares, já não são mais acompanhadas pelo retrato do presidente deposto, Zine El Abidine Ben Ali.

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Porém inúmeros jovens rapazes desempregados ainda se espreguiçam em cafés durante a tarde, fumando narguilé, jogando cartas e bebericando café. À noite, os barcos de pesca ainda transportam milhares de trabalhadores desesperados pelo Mediterrâneo, em direção à Europa.

"Se eu pudesse nadar até Lampedusa, eu iria", disse Walid Bourwina, 23 anos, referindo-se à ilha italiana para onde fugiram recentemente milhares de tunisianos.

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Uma pequena mochila vermelha, bem amarrada com todos os seus pertences, estava encostada aos pés do rapaz. "Não quero passar mais nem um minuto aqui", disse.

Ele chegou a Zarzis, há muito tempo um porto de partida para os tunisianos que saem em direção à Europa, duas semanas antes, vindo de uma vila longínqua no norte do país.

Ele esperava para ser abordado por pessoas locais que discretamente oferecem passagem até Lampedusa por cerca de US$ 1.450.

Dilemas

Tunisianos, jovens e idosos, contam com orgulho sobre a derrubada de um ditador e o desencadeamento dos levantes que se espalham pelo mundo árabe. No entanto, a exaltação de meados de janeiro começa a dar lugar a realidades mais sóbrias. A revolução não resolveu o desemprego crônico entre os jovens e a agitação abateu a economia com a partida de turistas e capital.

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O governo está passando por uma reviravolta e muitas pessoas também temem que levará anos até o desaparecimento da cultura de desconfiança e corrupção pré-revolução.

"É um país inteiro que precisa ser refeito", disse Ahmed Faouzi Khenissi, prefeito de Zarzis, uma cidade de 70 mil habitantes. "Não será em um ano, dois ou três. Será uma geração inteira". "Se eu tivesse a idade deles", comentou, referindo-se aos jovens que fogem para a Europa, "eu emigraria".