Quarenta anos depois de sua morte e em meio a homenagens e recordaçõesde Che Guevara como o ícone e a personificação do revolucionário romântico, o ensaio de um catedrático e escritor dissidente cubano mostra a imagem de um indivíduo fanático, cruel e sanguinário.

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Em entrevista à AFP, cubano Jacobo Machover, autor do livro "La Cara oculta del Che", publicado recentemente, se refere a Che como "um personagem não muito interessante, um instrumento ou uma vítima de Fidel Castro, um fanático cruel e sanguinário".

Machover, exilado em Paris desde 1963, admite que admirou muito o guerrilheiro quando era jovem, "como o de um mito fabricado depois de sua morte por Fidel Castro e engrandecido pelos intelectuais no mundo".

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"O objetivo era dar a ele uma imagem de eterna juventude de uma revolução que estava envelhecendo, através de um personagem de uma crueldade insensata e que, na verdade, não hesitou em executar pessoalmente a todos que considerava traidores".

Machover comentou a situação em Cuba, onde classificou o culto em torno de Che Guevara "como uma imposição a mais do governo".

"Até as crianças, educadas no culto ao revolucionário, que devem jurar todos os dias 'ser como o Che', debocham do personagem, que não é cubano, mas foi responsável por uma revolução que forçou mais de dois milhões de pessoas ao exílio", afirmou.

Machover explicou sua evolução, da admiração inicial até a condenação atual do personagem, por seu desejo de conhecê-lo mais profundamente, através da leitura de seus escritos, seus discursos e o testemunho daqueles que conviveram com ele, assim como seus inimigos e suas vítimas.

"Através deste trabalho fui me dando conta de que Che não tinha nada a ver com a imagem de liberdade que lhe atribuíam. Eu me dei conta de que não havia nele tal libertário, e sim um estalinista que me dava nojo; um fanático sedento de sangue e movido pela vontade de sacrifício pessoal e dos demais".

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Para Machover, Che tem, no entanto, circunstâncias atenuantes e uma delas foi sua morte na selva boliviana.

"Ele merecia mais ter sido julgado do que assassinado, pois não passou de um instrumento e uma vítima de Fidel Castro, que o mandou morrer no Congo, de onde se salvou, e depois para a Bolívia".

O dissidente explicou que o objetivo de seu livro é "divulgar a realidade e acabar com a imagem que se deu a Guevara através de frases humanistas a ele atribuídas e que ele nunca pronunciou".

"Tal como se depreende de seu discurso ante a ONU e de seus diários de campanha, o humanismo era algo totalmente alheio a alguém que teve um tal culto da morte", afirmou, para, por fim, depois definir o mito Che "como um simples mortal cheio de defeitos".

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